Ai, ai,
ai ta chegando a hora!
Amanhã
começa minha última semana na Índia, e amanhã também, é meu último dia no
trabalho!
Meus
posts também estão chegando ao fim, viajo sexta para Darjeeling
para ver os himalaias e as plantações de chá, e depois, logo logo, estou indo
pra casa.
Acho que nunca na minha vida eu aprendi tanto quanto
nesses 2 meses na Índia. Nós, seres pensantes, sofremos desse problema de
grandiosidade, de achar que sabemos de tudo. Estar em um lugar onde esse tudo é
absolutamente diferente (e conseguir absorver isso) nos mostra o quanto nosso
círculo é pequeno, o quanto limitado é o nosso saber.
E
principalmente o quanto temos potencial para fazer o melhor da nossa vida. Bastou
eu levantar a bunda da cadeira e me mexer para ir atrás de conhecer algo novo para
eu encontrar pessoas e amigos maravilhosos, para me sentir muito melhor comigo
mesmo.
Uma das
melhores coisas que fiz aqui foi exercitar minha capacidade e experimentar. Tanto coisas novas como
coisas velhas (feitas de uma nova forma) e tudo começou pela comida. Acho que
uma das maiores dificuldades aqui é a comida, é muito difícil saber o que se
está comendo, conseguir pedir o que se quer e nem vale a pena comentar quanto a
questão da higiene.
Na minha
segunda semana aqui, eu já tinha achado 2 ou 3 lugares onde eu conseguia pedir
comida e eu sabia que eu ia conseguir comer. Foi então que eu pensei: “ Eu
atravessei o planeta pra fazer/comer a
mesma coisa todo dia? Nem fu^&%$#!” Desde
então, eu prometi para mim mesma que todo dia ia comer alguma coisa diferente,
alguma fruta, algum prato, algum molho. O importante era que eu nunca tivesse
experimentado antes.
E parece
que desde então a minha percepção de várias coisas vem mudando. Quando eu peço
prato X e recebo prato Y, acho divertido experimentar alguma coisa nova. Quando
fico perdida, tiro um tempo para andar pelos arredores (perdida por perdida, no
fim vou ter que me virar para voltar pra casa de qualquer forma). Pergunto
sobre assuntos que não me interessariam antes, vou para lugares que eu sei que
eu não gostaria de ir antes, mas tento ver com outros olhos, quando quero pedir
informação não procuro mais pelos sapatos sociais ( para tentar achar alguém que
fala inglês nas ruas quando precisamos, procuramos pelos sapatos, se não estão
descalços, ou com chinelos e sandálias, a chance de falarem inglês é maior) e
sim pergunto para todo mundo até achar o que quero.
Ontem
passei o dia andando pela cidade sozinha, fui aos mercados, nas feiras, para
achar as ultimas coisas que eu queria levar para casa. Experimentei roupas,
sapatos, chás, temperos, musicas, livros. Conversei em Inglês, Hindi, Bengoli, espanhol,
falei sobre o Brasil, sobre meu trabalho, minha faculdade, sentei com os
vendedores da feira, tomamos chá.
Hoje meus
alunos quase me fizeram chorar. Todos os dias eles perguntam quando eu vou
embora reclamam de ter que ter aula com a professora velha depois que eu for e
tudo mais, mas hoje como penúltimo dia foi o grande choque. Já é amanhã!
Os dois
alunos que eu sou mais próxima falam todo dia que vão sentir minha falta e
quanto importante tudo isso foi pra eles, mas hoje dois outros alunos que não
falam muito resolveram falar.
Um disse
que ia ficar esperando eu voltar pra Índia e que tinha medo de que eu esquecesse
eles. O outro, bem mais velho, disse que aqui na Índia, homens não choram, então
eu não ia vê-los chorando amanhã, mas que com certeza eles todos já estavam
chorando por dentro. ( e eu chorando por dentro e por fora enquanto escrevo).
A mesma sensação
que eu tive quando estava indo embora
dos EUA eu estou tendo agora, eu pensei que isso não ia acontecer, fiquei aqui
só 2 meses, mas está sendo muito mais forte. A sensação de que é a ultima vez
que passo por determinado lugar, ultima vez que aceno ou sorrio para
determinada pessoa, ultima vez que converso com alguém. E que mesmo que eu
volte daqui 6 meses, um ano, ou 10 anos, nunca mais vai ser igual. Nunca mais
vou começar minhas noites conversando em hindi-bengoli-inglês com o menino da
barraquinha de comida, passar as tardes tomando chá na loja de temperos e
falando sobre Pelé, Kaka e Ronaldinho, ou gastar 30 minutos todo dia para
conseguir explicar que quero meu almoço sem chilli ou ficar feliz simplesmente
por ter acordado mais um dia sem dor de barriga.
Hoje
terminei de ler um livro que trouxe do Brasil, e uma das citações diz:
“... Meu primeiro
professor costumava ter uma espécie de batalha de apostas com o universo. O
universo faz algo de bom pra você e você responde:
- Ah, você
acha que isso foi bom, Rá! Veja só o que eu vou fazer por você; vou te dar o
troco em dobro
- Ótimo,
mas agora vou retribuir a você em dobro – prossegue o universo. Então você
continua:
- Ainda
não estou impressionado...”
E
realmente, tudo isso que aconteceu e está acontecendo aqui está sendo
maravilhoso. Agora é a minha vez de dar o troco...
Quer conversar sobre a despedida da professora enquanto ela está na classe e sem que ela entenda, simples, é só falar em Bengoli.
Bala de café e doce de banana.
Suco de guaraná
Ontem começou o inglês e fiz a maior propaganda sua lá... A teacher esta apaixonada por vc já, kkkkk. Volta logo! Bjs
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