quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Não aprendi dizer adeus...

Ai, ai, ai ta chegando a hora!
Amanhã começa minha última semana na Índia, e amanhã também, é meu último dia no trabalho!
Meus posts também estão chegando ao fim, viajo sexta para Darjeeling para ver os himalaias e as plantações de chá, e depois, logo logo, estou indo pra casa.
Acho que nunca na minha vida eu aprendi tanto quanto nesses 2 meses na Índia. Nós, seres pensantes, sofremos desse problema de grandiosidade, de achar que sabemos de tudo. Estar em um lugar onde esse tudo é absolutamente diferente (e conseguir absorver isso) nos mostra o quanto nosso círculo é pequeno, o quanto limitado é o nosso saber.
E principalmente o quanto temos potencial para fazer o melhor da nossa vida. Bastou eu levantar a bunda da cadeira e me mexer para ir atrás de conhecer algo novo para eu encontrar pessoas e amigos maravilhosos, para me sentir muito melhor comigo mesmo.
Uma das melhores coisas que fiz aqui foi exercitar minha capacidade e experimentar.  Tanto coisas novas como coisas velhas (feitas de uma nova forma) e tudo começou pela comida. Acho que uma das maiores dificuldades aqui é a comida, é muito difícil saber o que se está comendo, conseguir pedir o que se quer e nem vale a pena comentar quanto a questão da higiene.
Na minha segunda semana aqui, eu já tinha achado 2 ou 3 lugares onde eu conseguia pedir comida e eu sabia que eu ia conseguir comer. Foi então que eu pensei: “ Eu atravessei o planeta pra fazer/comer  a mesma coisa todo dia? Nem fu^&%$#!”  Desde então, eu prometi para mim mesma que todo dia ia comer alguma coisa diferente, alguma fruta, algum prato, algum molho. O importante era que eu nunca tivesse experimentado antes.
E parece que desde então a minha percepção de várias coisas vem mudando. Quando eu peço prato X e recebo prato Y, acho divertido experimentar alguma coisa nova. Quando fico perdida, tiro um tempo para andar pelos arredores (perdida por perdida, no fim vou ter que me virar para voltar pra casa de qualquer forma). Pergunto sobre assuntos que não me interessariam antes, vou para lugares que eu sei que eu não gostaria de ir antes, mas tento ver com outros olhos, quando quero pedir informação não procuro mais pelos sapatos sociais ( para tentar achar alguém que fala inglês nas ruas quando precisamos, procuramos pelos sapatos, se não estão descalços, ou com chinelos e sandálias, a chance de falarem inglês é maior) e sim pergunto para todo mundo até achar o que quero.
Ontem passei o dia andando pela cidade sozinha, fui aos mercados, nas feiras, para achar as ultimas coisas que eu queria levar para casa. Experimentei roupas, sapatos, chás, temperos, musicas, livros.  Conversei em Inglês, Hindi, Bengoli, espanhol, falei sobre o Brasil, sobre meu trabalho, minha faculdade, sentei com os vendedores da feira, tomamos chá.
Hoje meus alunos quase me fizeram chorar. Todos os dias eles perguntam quando eu vou embora reclamam de ter que ter aula com a professora velha depois que eu for e tudo mais, mas hoje como penúltimo dia foi o grande choque. Já é amanhã!
Os dois alunos que eu sou mais próxima falam todo dia que vão sentir minha falta e quanto importante tudo isso foi pra eles, mas hoje dois outros alunos que não falam muito resolveram falar.
Um disse que ia ficar esperando eu voltar pra Índia e que tinha medo de que eu esquecesse eles. O outro, bem mais velho, disse que aqui na Índia, homens não choram, então eu não ia vê-los chorando amanhã, mas que com certeza eles todos já estavam chorando por dentro. ( e eu chorando por dentro e por fora enquanto escrevo).
A mesma sensação  que eu tive quando estava indo embora dos EUA eu estou tendo agora, eu pensei que isso não ia acontecer, fiquei aqui só 2 meses, mas está sendo muito mais forte. A sensação de que é a ultima vez que passo por determinado lugar, ultima vez que aceno ou sorrio para determinada pessoa, ultima vez que converso com alguém. E que mesmo que eu volte daqui 6 meses, um ano, ou 10 anos, nunca mais vai ser igual. Nunca mais vou começar minhas noites conversando em hindi-bengoli-inglês com o menino da barraquinha de comida, passar as tardes tomando chá na loja de temperos e falando sobre Pelé, Kaka e Ronaldinho, ou gastar 30 minutos todo dia para conseguir explicar que quero meu almoço sem chilli ou ficar feliz simplesmente por ter acordado mais um dia sem dor de barriga.
Hoje terminei de ler um livro que trouxe do Brasil, e uma das citações diz:
“... Meu primeiro professor costumava ter uma espécie de batalha de apostas com o universo. O universo faz algo de bom pra você e você responde:
- Ah, você acha que isso foi bom, Rá! Veja só o que eu vou fazer por você; vou te dar o troco em dobro
- Ótimo, mas agora vou retribuir a você em dobro – prossegue o universo. Então você continua:
- Ainda não estou impressionado...”
E realmente, tudo isso que aconteceu e está acontecendo aqui está sendo maravilhoso. Agora é a minha vez de dar o troco...




Quer conversar sobre a despedida da professora enquanto ela está na classe e sem que ela entenda, simples, é só falar em Bengoli. 
Bala de café e doce de banana.


Suco de guaraná







Um comentário:

  1. Ontem começou o inglês e fiz a maior propaganda sua lá... A teacher esta apaixonada por vc já, kkkkk. Volta logo! Bjs

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