domingo, 25 de dezembro de 2011

Então é natal, e o que você fez?!



O fim de semana foi legal, agora que tenho internet e já consigo andar sozinha pela cidade então estou começando a ter mais noção de tempo e estabelecer minha rotina.
No sábado levei os russos comigo para o trabalho, eles estavam perdidos e não teriam o que fazer em casa então fomos juntos. Eles ficaram bem assustados, a parte da cidade onde eu trabalho é bem mais pobre do que a parte que moramos.
Embora a maioria dos alunos seja Hindu ou Mulçumana, todos comemoram o Natal aqui ( na escola onde o Matheus e a Anastácia trabalham, os alunos comemoram todos os feriados de todas as religiões). Isso é mais uma das coisas que me surpreenderam na Índia, não importa a sua religião, a sua seita, qual Deus ou Deuses você acredita, tem espaço para todo mundo.
( essa é a a "mãe"  das Igrejas da diocese das igrejas do norte da Índia. Essa e a casa de Deus e a casa da prece. Todos são bem vindos para visitar e fazer suas preces aqui. Pedimos que trate a  Igreja e os arredores com o devido respeito)
                                                         (que a paz prevaleça na Terra.)
Grande parte dos meninos voltaram para suas vilas de origem para “celebrar” o natal com as famílias e a aula só teve 4 alunos.  Como as professoras não estavam a fim de dar aula e só tinham poucos alunos acabamos ficando conversando pelas 4 horas.  Durante a manhã toda, os alunos não pararam de perguntar sobre a Rússia para a Anna e o Alexy. Quando eu cheguei aqui, 2 semanas atrás, eles não me perguntaram praticamente nada, e com muito esforço, responderam as minhas perguntas. É incrível ver a evolução deles em tão pouco tempo.
Os russos ainda não falam inglês de uma forma entendível, além do sotaque. Meu sotaque também é muito forte, e os meninos estão aprendendo agora. Mas conversamos sobre economia, politica, eles me explicaram como a mudança de governos há 3 décadas atrás tirou o inglês da grade obrigatória de escolas públicas ( foi recolocado 1 ou 2 anos atrás) e como isso afetou a geração deles.
Depois da aula, fomos almoçar. Comemos na rua, comida típica indiana, com direito a usar as mãos para comer e muita pimenta. Depois fomos de metro para o New Market ( nunca fiquei em um lugar tão lotado em toda a minha vida), trocamos o dinheiro dos russos e eu comprei o presente do meu amigo secreto.  Voltamos para casa de taxi, nunca imaginei que em 2 semanas iria conseguir andar sozinha em Calcutá.
A noite todos os estagiários da AIESEC se reuniram aqui em casa para comemorarmos o Natal. Éramos em torno de 30, tanto os do estágio voluntario como do profissional, tomamos algumas cervejas ( 5 garrafas dividido por 20 = é muito difícil de achar bebida na Índia)  e pedimos pizzas.
O pessoal aproveitou bem a festa, eu aproveitei do meu jeito, conversando com uma menina da África do Sul, uma da Romênia e um cara da Tunísia durante toda a noite, foi legal, novas pessoas, novas formas de pensar. Como a gripe realmente me pegou, fui dormir logo depois que eles foram embora.
Hoje foi o primeiro dia que não tive compromisso pela manhã e consegui dormir um pouco mais. Acordei por volta das 10, nos arrumamos e fomos ver alguns pontos turísticos da cidade. Fomos ao templo da Deusa Kali, a Deusa da fortuna. O lugar é bem pobre, pessoas, cachorros e cabras vivendo juntos pelas ruas.



Para entrarmos no templo tivemos que tirar os sapatos, andar por varias ruelas e ficar mais de uma hora na fila, o calor, o barulho e o cheiro são muito fortes, e mesmo assim nada tira a expressão de paz e tranquilidade dos indianos. E não falo só de adultos, as crianças e até mesmo os bebes, por horas nas filas, calmas e sem reclamar.
Tinham muitas pessoas, mas o templo em si á uma salinha apertada, 4x4 metros, com a imagem da Deus no meio, passamos por lá em fila, doei um pouco de dinheiro para o templo (eles alimentam mais de 2 mil pessoas por dia lá) e fomos embora.
Voltamos para casa, pois teríamos um evento para ir, chama-se projeto Sun Shine( apoiado pela AIESEC), são vários músicos e DJs que fazem parte do evento e todo o dinheiro é doado para caridade. Quando chegamos lá, o evento estava sendo realizado em um espaço do exército da Índia e seguindo as normas do país não pudemos entrar, pois somos estrangeiros.
Agora estou em casa, esperando um pessoal chegar para irmos jantar. Espero ter mais coisas interessantes para contar essa semana e mais animo para escrever também. Sai de mim gripe!
    (vestidas pro casamento indiano)

Feliz natal a todos.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Casamento indiano e um desabafo.

Antes de começar o post queria fazer um desabafo. Vi um monte de gente que tá aqui na índia reclamando do pais, do lugar, do trabalho.
A primeira coisa que nos torna seres racionais é a capacidade de tomar decisões. Mas a principal coisa que nos torna homens e mulheres é a capacidade tomar decisões, ser responsável por elas e arcar com as consequências. Reclamar das próprias escolhas é a forma mais estúpida de admitir imaturidade e ignorância perante a vida.
Se você escolhe sair do conforto da sua casa, gastar dinheiro, e fazer alguma coisa diferente, a primeira coisa (inteligente) a ser feita é pesquisar sobre o lugar, e ponderar as escolhas. A partir do momento que nos submetemos a uma situação como essa, onde todos estão aqui por vontade própria, por que inventar tantas desculpas e problemas para não aproveitar esse precioso momento?
Fazer trabalho voluntário na Índia soa quase melódico. Por mais utópico que isso pareça, eu não vim aqui para poder contar aos meus amigos que vi os lugares que passaram na novela “Caminhos da Índia”. No Brasil as pessoas também precisam de ajuda, eu tenho certeza que se eu tivesse doado o valor da minha passagem para uma instituição de caridade eu teria ajudado muito mais do que o que eu estou fazendo aqui. Eu vim aqui porque eu quero ser uma pessoa melhor, eu quero entender diversidade, eu quero descobrir meus limites, eu quero ver do quanto eu sou capaz. E então, voltar ao Brasil, voltar a fazer o bem ao próximo e me doar de uma maneira que eu só vou conseguir depois de passar por aqui.
Infelizmente, o amadurecimento e a doação ao próximo de alguns aqui tem passagem comprada de vinda e de volta. E mesmo assim, parece que nesses 2 ou 3 meses eles estão sendo obrigados a estar aqui.
A comida aqui é sim muito apimentada, estou com fome desde que cheguei. A cidade é suja, o cheiro é péssimo, o transito e o barulho insuportável. Uma casa onde caberiam 7 pessoas está suportando 11, a geladeira não funciona, está muito frio e não temos cobertores nem agua quente nos chuveiros. Eu estou aqui porque foi minha escolha, posso voltar na hora que quiser, é assim que funciona. Minhas escolhas, e como eu me orgulho de dizer que em momento nenhum, me arrependo delas.
(vista da sacada de casa)
Voltando as nossas histórias.
A aula na quarta foi ótima. Estou conversando mais com a diretora, ela apoia meu método de ensino, e a professora está me deixando muito mais tempo sozinha com eles. Embora eu tenha que fazer algumas atividades que não goste ( nem eles) como os ditados, agora estou colocando eles para ditar pra eles mesmos. Estão adorando, até brigam para ver quem vai falar. No caminho de ida vi alguns cachorros mortos e corvos comendo pedaços dos ratos amassados pelos carros na rua, bem chocante.
Na quarta a noite ficamos sabendo que ontem teríamos um casamento indiano para ir. Sai da aula, voltei para casa e fui com o português para o New Market procurar roupas para a festa. Não tínhamos muito tempo, procuramos um pouco, achamos alguma coisa e voltamos para a casa.





O casamento era do filho de um governador do Estado, na verdade fomos á recepção depois do casamento ( que tinha sido no dia anterior) e eles eram mulçumanos então a festa não era tipicamente Indiana. Tinham mais de 3 mil pessoas, e a festa foi em um dos hotéis da família, um lugar enorme, com lagos e muita, muita comida. Chegamos lá, fomos apresentados para todas as pessoas possíveis, comemos e voltamos para casa.
Embora eu estivesse muito empolgada para ir ao casamento, uma coisa que aconteceu antes acabou com a minha noite. Fomos avisados para comprar flores para levar na cerimonia, compramos algumas rosas e fomos de taxi até o lugar onde o diretor da escola de alguns estagiários nos buscaria para irmos pro evento ( ele que nos convidou). O lugar era uma dos bairros pobres, fomos para lá de taxi e enquanto esperávamos pensamos que talvez as rosas não seriam apropriadas e que iriamos comprar um arranjo então decidimos dar as rosas para as crianças na rua.
Como sempre, todos estavam olhando para nós, eles não estão acostumados com estrangeiros. As crianças ficaram envergonhadas e não quiseram as flores. Perto de nós tinham um homem sentado na calçada, de cócoras, como eles sentam aqui. Ele estava lá sentado, quase sem roupa, olhando para o nada, com a expressão de paz que só os indianos têm, a noite estava fria e a calçada molhada. Falei que podíamos dar as flores a ele, oferecemos, ele não entendeu, não sabia se aceitava ou não, no fim pegou as flores. Sem nenhuma palavra, durante os 15 ou 20 minutos que ficamos lá esperando pelo carro ele olhava para as flores, sorria e as cheirava, colocando delicadamente no colo, e depois as alisava e sorria de novo, e assim por todo o tempo que ficamos lá. O resto dos estagiários estava conversando e tirando fotos, nem perceberam. Mas desde ontem não consigo tirar a lembrança da minha cabeça.
Acordei cedo hoje para preparar minha aula, a aula foi legal, os alunos estão se soltando cada vez mais. Voltei para casa, estava com sono atrasado (por causa do casamento) e doente. Queria dormir mais chegou um casal russo para o estágio profissional e o pessoal da AIESEC esta viajando em conferencia. Aqui em casa não cabe mais nem uma formiga, e não sabíamos eu eles estavam vindo, então todo mundo estava “puto da vida”. Eu fiquei com dó e fui leva-los para comer, comprar coisas no mercado e tudo mais. E ainda tive que ouvir o comentário deles de que eles queriam fazer o estágio voluntário também, mas na Europa, por que os indianos são muito pobres e sujos.
Fomos convidados pra mais dois eventos hoje, metade do pessoal já foi, os russos estão dormindo e a outra metade vai daqui a pouco. Estou doente e casada, por hoje fico aqui!

Beijos

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Comida indiana e perdida na Índia


Vou falar um pouquinho do meu dia ontem e hoje, tenho bastante fotos e vídeos.
Ontem fui para o trabalho, cheguei mais cedo, conversei um pouco com o Animish, um dos alunos. Tivemos a primeira parte da aula, conheci mais um novo aluno que estava ausente na última semana por que tinha voltado para a sua vila para ajudar na época da colheita. A diretora comprou um mapa mundi ( como eu tinha pedido), alguns dos alunos não sabiam achar Kolkata na Índia mas maioria tinha uma boa noção. Enquanto eu explicava para eles sobre o descobrimento do Brasil (como os portugueses se confundiram achando que aqui era Índia e tal) um dos alunos levantou e falou pra eu perguntar a capital de qualquer País. Eu perguntei a capital do Japão, ele levantou, foi no mapa, me mostrou a capital de cerca de 10 países diferentes, me falando os nomes de presidentes e explicando quais eram as capitais políticas e econômicas de cada um deles, fiquei realmente impressionada.
Como alguns alunos tinham testes, a professora deu um intervalo de 20 minutos. Os alunos desceram e contrariando a recomendação da professora de não ficar muito próxima dos alunos eu fui com eles. Eles foram na rua ao lado, para tomar chá. As ruas daqui são cheias de barraquinhas ( na verdade é no chão) com comida, chá e frutas. As comidas são servidas em folhas secas ( no formato de uma tigela) e os líquidos em copinhos de barro que depois são jogados no chão.
Os alunos me ofereceram chá, como a primeira regra para India é não comer nada na rua, eu neguei. Mas Indiano que se preza não descansa enquanto não faz a gente comer/beber o que oferece, e 2 minutos depois estavam me entregando o mais original chá com leite feito na rua (sem nenhuma higiene, claro) e no copinho de barro. Bebi o chá, ao mesmo tempo que pedia ao meu sistema imunológico com toda a minha força para não ficar doente. Era gostoso, afinal.
Voltamos para a aula, estávamos conversando sobre religiões e paz na índia e um dos alunos pediu para me falar uma frase do Dalai Lama:

“Cuide dos seus pensamentos na medida em que eles se tornam palavras;
Cuide das suas palavras na medida em que elas se tornam ações;
Cuide das suas ações na medida em que elas se tornam hábitos;
Cuide dos seus hábitos na medida em que eles se tornam seu caráter;
Cuide do seu caráter pois esse formará o seu destino;
E o seu destino, será a sua vida”

Na saída os alunos me perguntaram sobre o dinheiro do Brasil e eu mostrei as nossas notas. A professora perguntou se eu queria almoçar com ela, fomos a um lugar ali perto e tivemos uma comida típica daqui que eu não lembro o nome, são batatas cozidas com massala (temperos e pimenta)  e alguma coisa que parece pastel, ai servem em uma bandeja e em pé  você segura com a mão esquerda e come com a direita. Uma prova de coordenação!
Voltei para casa, dormi um pouco e depois buscamos comida em um restaurante diferente do que estamos habituados. Muita, muita pimenta. Era um macarrão com vários legumes, e um arroz com legumes também, almondegas vegetarianas e um queijo branco ao molho. Consegui comer todo o arroz e o macarrão, e fiquei com a boa ardendo por mais de 2 horas. Compramos alguns doces daqui também, todos tem o gosto parecido, são feitos de leite qualhado e alguma coisa que tem o mesmo gosto do tempero das comidas, mas doce.
Hoje acordei mais cedo, achei que fosse morrer até aquela comida toda sair de dentro de mim. Tirei varias fotos do prédio e das ruas aqui, estão logo abaixo, fiz alguns vídeos do transito também.
Nosso apartamento: 







Nada melhor para despertar do que a adrenalina de andar em um Auto Rick-shaw as 8 horas da manhã. Na verdade atravessar as avenidas sem sinaleiro e sem faixa de pedestre é muito mais emocionante, mas eu não consegui filmar e continuar viva ao mesmo tempo, então por hoje vai o vídeo do transito mesmo.



Cheguei mais cedo na escola, então fui a um café americano que tem ali por perto, o lugar é bem caro (nem sei como sobrevive em um lugar pobre como aquele) e pedi um super chocolate quente ( eu não sabia que era enorme até chegar). Do outro lado do café tinha uma mesa com 2 Indianas e um Indiano, que 5 minutos depois do meu chocolate chegar veio na minha mesa puxar assunto. Como eu não estava a fim de conversa furada, terminei o meu chocolate o mais rápido que pude e fui pra escola. A diretora estava tomando o café da manha dela, um monte de xuxu cozido com todos os temperos indianos possíveis, e como eu disse anteriormente, ela não sossegou enquanto eu não comi com ela. Uma bela forma de começar o dia, Chocolate quente e xuxu cozido.
Na escola conheci mais 3 alunos, um homem que não falou muito e 2 meninas, agora a Taslima não está mais sendo a única menina da sala. Fiquei a maior parte do tempo conversando sobre o Brasil com a diretora, não passei muito tempo na sala. O índice de falta as aulas é muito grande, eles tem que fazer provas da faculdade, trabalhar, ajudar a família. É uma pena, o curso é bem caro para eles.
Algumas fotos da rua do escritório, do prédio e deles:







Na saída um dos alunos, O Farujk estava esperando os outros meninos e conversando com a Taslima (em bangoli) e ele é um dos que menos sabe Inglês na sala e fica muito, muito nervoso quando tem que falar. Eu passei por ele e brinquei “ Olha só Farujk, você conversando, tem que falar bastante assim na aula também!” E não é que ele sabe falar Inglês, o menino desembestou a falar ( eu entendi só metade) e só parou quando terminamos de andar pela avenida e tomamos caminhos diferentes.
Eu estava procurando pelo Auto que tenho que pegar, perguntei “Baligunge?” e o motorista concordou, entrei e depois de uns 15 minutos percebi que não estávamos indo para o lugar que eu esperava, ele provavelmente entendeu errado. Como eu não sei falar nem pare em Hindi, fui até a rota final, um subúrbio onde, acho eu, que nunca tinham visto um estrangeiro.  Muitas encaradas depois consegui achar o Auto de volta pro lugar que eu tinha saído, pra tentar achar o  Auto certo mais uma vez.
Estar perdido em uma cidade com 14 milhões de habitantes não é nada legal, especialmente se ninguém te entende e você não sabe seu endereço ( por que as ruas não tem numero nem nome, eu só sei chegar na rota e depois andar até o apartamento).
O segundo Auto me levou para o bairro que eu queria mas realmente longe do lugar onde eu poderia encontrar qualquer meio de locomoção de volta para casa, e como a comunicação é impossível, não restava nada a fazer.
Consegui um taxi, ele também não falava inglês e não conseguia entender minha pronuncia do lugar que eu queria ir. Depois de muito esforço ele entendeu, me trouxe no meu bairro mas não entendia que eu queria continuar a corrida (porque eu estava há mais de 40 minutos andando de casa).
Liguei para a Ajay da Aiesec, pedi (em inglês) para ele explicar em Hindi ( ou Bangoli, a essa altura do campeonato já não me importava mais) como chegar em casa. Como desgraça pouca é bobagem, ele não entendeu de novo e quanto estávamos suficientemente perto e desci e vim andando. Uma hora e meia depois e 68 rúpias (R$2,50) eu estava em casa.
Achei um lugar que vende rolls ( tipo uma massa de panqueca enrolada com recheios) e não são apimentados. Comprei um de frango com ovo ( segunda vez que como frango desde que cheguei aqui). São bons, vamos ver amanha se o meu sistema imunológico acha o mesmo.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Um pouquinho mais sobre meu trabalho


Hoje é segunda-feira, e enfim consegui escrever sobre tudo que se passo aqui. São tantas coisas acontecendo que não quero perder nenhum detalhe.
Acordei por volta das 7 da manhã, sou a primeira a acordar na casa, o meu trabalho é o que começa mais cedo. Não tomei banho porque está muito frio e não temos agua quente. O Eduardo que está aqui é americano mas mora em Portugal, ele tinha comprado cereal e pela primeira vez desde que cheguei aqui comi alguma coisa sem pimenta.
Sai para trabalhar, tenho que andar cerca de 20 minutos, então eu pego um Auto rick-shaw e depois ando por mais 15 minutos no lugar em que acaba a rota. As únicas coisas que sei falar em Hindi são Hazara ( que é a estação que eu ir) Baligan je phadi ( que é a estação que eu tenho que voltar) e Gurusaid Road que é a rua principal perto do apartamento. De resto não entendo nada do que os motoristas falam ou perguntam, passo o tempo todo respondendo com o endereço que quero ir seguido de “ eu só falo inglês”  até agora tem funcionado, um dia, quem sabe, eu entenda o resto.
Os indianos não estão acostumados a ver estrangeiros aqui, por onde vou, principalmente quando estou sozinhas, eles ficar olhando sem parar. Aqui eles não tentam puxar assunto e os olhares não me incomodam, ao contrario dos outros estagiários eu adoro sair do apartamento e ir andar e ver o que acontece nas ruas. Em restaurantes, na casa dos indianos, na portaria do prédio ou mesmo no lugar onde eu trabalho existem os serventes, as pessoas das castas que fazem os serviços de limpeza e servem aos indianos das castas superiores  ao contrario do que acontece aqui eu sempre peço por coisas usando por favor e obrigada e dou bom dia, oi e tchau, e eles sorriem para mim o tempo todo. Hoje durante o trabalho o Dipak (servente do escritório) me levou chá com leite 2 vezes, mesmo sem eu ter pedido e também uma garrafa de água. Quando eu fui levar as xicaras e a garrafa de volta para a cozinha eles ficou desesperado e tirou da minha mão, dizendo alguma coisa como “ não, não,  não senhora” ( ele não fala quase nada em inglês), a diretora falou que eu não precisava fazer isso, eu respondi dizendo educadamente que independentemente do que ela falasse eu iria fazer, sorri e continuei andando.
A aula foi legal, meus recursos ainda são limitados porque não tenho internet e eles não tem material didático lá, mas em menos de uma semana eu já vejo os alunos progredindo. Agora que estou acostumando com o estereótipo indiano fica mais fácil de lembrar os nomes  e as personalidades deles.
A professora Indiana, claramente tem outra metodologia de ensino, como eu já disse anteriormente. São gritos, humilhação ( como a bronca que ela deu em um dos meninos hoje por ele não estar de sapatos fechados. Ela perguntou se ele tinha sapatos, ele falou que sim, mas com toda certeza, se ele os tivesse ele não estaria de sandálias, pelo menos não com o frio que estava hoje) e repetições.
Eu não concordo, e não faço questão nenhuma de esconder, a classe está uma bagunça com as cadeiras em circulo, eles não levantam mais para responder as questões eu vou até a cadeira deles e abaixo para manter contato visual e eu pedi que não me chamassem de senhora. Porém, os mesmo alunos que há 5 dias atrás não conseguiam responder perguntas como “qual é seu nome e de onde você veio” agora brigam entre si para ver quem vai me responder primeiro quando pergunto sobre política, economia, ou qual é o objetivo deles para o futuro. O inglês pode não ser o mais claro e fluente do mundo, mas com ajuda dos colegas que sabem um pouco mais ou tem uma melhor pronuncia eu sempre entendo.
Hoje, antes de a aula começar, os 2 alunos que falam melhor vieram me perguntar como eu ensino no Brasil, se eu também uso a mesma metodologia que a professora deles, eu falei que não que eu não acho que repetição é uma boa forma de aprendizado, que na minha opinião eles deveriam responder o que  tinham entendido dos textos e não decora-los para repetir (como a professora exige). Eles disseram que pensavam o mesmo, e como eu sabia que ela estava do lado de fora da sala e provavelmente ouvindo eu falei para eles que eles deveriam perguntar isso a ela e pedir que ela explicasse o porquê da metodologia dela e eles expusessem a opinião deles.
Eles perguntaram e provavelmente foi a primeira vez que ela foi questionada por um aluno. Ela explicou o porque usa repetição ( que foi assim que ela aprendeu na escola há décadas atrás etc etc). Coincidência ou não, não tivemos mais repetição por hoje.
Eu fico bastante tempo sozinha com eles na sala, mas algumas vezes a professora volta para a sala para fazer as atividades dela, embora ela não pareça muito feliz com a minha presença, ela também não está pedindo para eles levantarem mais e os gritos e repetições parecem estar diminuindo, hoje ela até mesmo aplaudiu alguns deles depois que eles falavam. Eu não gosto de julgar culturas, eu sei que todas as escolas (seja para crianças ou para adultos como a minha) trabalham desse forma, mas respeitosamente eu estou mostrando uma outra possibilidade. Se ela realmente entender como essa forma de motivação e ensino pode ajudar (não só ela, mas os 4 ou 5 alunos na sala que são professores também), ótimo, se ela só estiver fazendo isso enquanto eu estou aqui para não batermos de frente vai ser triste, mas eu quero fazer de tudo para que, pelo menos, esses meninos/homens que eu conheci, tenham um futuro melhor.
Eu falei para eles semana passada que quando eles tivessem se apresentando em entrevistas de emprego eles deveriam dizer no que eles eram bons. No começo eles não conseguiam dizer nada, diziam apenas o nome, da onde tinham vindo e o nome da escola que estudaram. Depois de muito aperta-los, hoje eu tive homens ficando de pé, sem tremer, sem gaguejar e falando não mais que eles não sabiam falar inglês e sim que eles  eram formados e direito, bons com matemática, especialistas em computação, capitães dos times de críquete .
Hoje um novo aluno entrou no curso, ele não estava apavorado igual aos outros quando cheguei aqui, ele saiu da aula sorrindo e conseguiu entender quando eu perguntei e ele tinha gostado da aula, a resposta foi um sim ( na verdade eles falam tão baixo que eu não consegui ouvir, mas o sorriso dele não deixou dúvidas). Mais um dos meninos contou que teve que parar a faculdade por não ter dinheiro. Não existe contato físico entre homens e mulheres aqui, mas todo dia eu tenho vontade de abraça-los e dizer que tudo vai ser melhor um dia, na verdade eu gostaria de ter certeza que essas pessoas tão especiais que já mudaram minha vida, vão um dia, ter um futuro melhor...

Fim de semana e introdução a realidade.


No sábado acordei e fui trabalhar sozinha, já estou ficando boa em achar os caminhos nessa cidade enorme. Mais uma vez meus alunos me esperavam com sorrisos para iluminar meu dia, no sábado não são todos que vão a aula, a sala tinha em torno de 15 deles.
A professora Indiana me deixou varias vezes sozinha com a classe, e em uma dessas horas 2 dos alunos pediram pra falar e disseram gaguejando com um inglês carregado de sotaque e algumas palavras em Bengoli (os colegas ajudavam a traduzir) “ muito obrigada senhora Juliana por ter vindo aqui e nos ajudar a construir nosso futuro”. Com os olhos cheios de lagrima, continuei a minha aula.
A professora fez alguma das atividades de repetição e ditado dela e no fim da aula, enquanto saímos um dos alunos que consegue falar melhor puxou um colega e veio me falar Obrigada em português, dizendo que pela primeira vez eles estavam se sentindo confortáveis em falar inglês e que não tinham medo de errar comigo.
Com meu dia realizado, mais uma vez, voltei para casa e por volta das 5 fomos para o hotel da festa, nos preparar para o trabalho. Nos trocamos e fomos para os nossos postos, meninos na recepção e meninas entregando um shot de vodca e um pedaço de Chille, os convidados tinham que morder a pimenta e virar a vodca. Muito poucos aceitavam a bebida, alguns perguntavam se éramos russas, mas tinha um segurança para não deixar ninguém conversar conosco.
Quatro horas depois, muito cansados e com 3 mil rúpias no bolso voltamos para casa. Alguns ficaram na festa mas a última coisa que quero fazer aqui é ficar até tarde fora de casa e estragar meus dias que tem sido tão maravilhosos.
No domingo, acordamos por volta das 8 e fomos ver a apresentação de final de ano de um projeto parceiro da Aiesec. São escolas para meninos e meninas desprivilegiados que ensinam cultura, musica, dança, teatro, entre outros além das meterias normalmente aprendidas na escola.




Eram mais de 100 crianças, alguns muito novos, mas é difícil de dizer a idade, a desnutrição das crianças pobres aqui faz com que crianças de 8, 9 anos pareçam ter 4 ou 5. O dia estava muito frio, eles vestiam shorts ou saias, alguns com casaco e a maioria com sandálias. Enquanto assistimos as apresentações eles permaneceram sentados no gramado, enfileirados e quietos.
Por onde íamos as crianças nos olhavam, vinham perto, queriam conversar, mesmo não falando inglês. Tiramos algumas fotos, eu já tinha ouvido falar e agora tenho certeza, os olhares das crianças indianas são incríveis.  
Depois disso comemos com as autoridades, o bairro onde estávamos é bem mais pobre que o nosso, as casas muito simples, as pessoas descalças no frio entre ratos e porcos pelas ruas. 



Fomos ao New Market (bairro para se fazer compras, parecido com a 25 de março) comprei algumas roupas, bijuterias e lembranças.  Eles tentam cobrar 10, 20 vezes mais do que o valor real por sermos estrangeiros, mas a Rose (da Nova Zelândia) estava conosco e ela é originalmente da Índia e consegue falar alguma coisa em Hindi então conseguimos preços bons.
Embora tenha sido uma tarde legal eu não voltei feliz para casa, a realidade que vimos no mercado me deixou muito chocada, saber que eu não posso fazer nada por aquelas pessoas me traz um sentimento tão ruim que não sei como explicar. Enquanto comprávamos, passávamos pelos “underpeople” como eles chamam aqui, ou a classe dos intocáveis, eles não podem falar com os indianos, mas falam conosco estrangeiros a procura de dinheiro. As crianças, praticamente sem roupas, vivendo entre cachorros sarnentos e latas de lixo vinham até nós para pedir comida, e se ajoelhavam e tocavam nossos pés como sinal de respeito. Fomos orientados a não dar nada a eles, primeiro por que o sistema social não permite e segundo por que são muitos, se dermos para um ou dois todos os outros vão vir atrás de nós. Eu estava desesperada e peguei as bolachas que tinha na bolsa para dar a uma das crianças, mas quando vi o “dono” ou adulto que os obriga a fazer isso estava esperando alguns metros de distancia e preferi seguir as instruções, então continuei andando.
Voltamos para casa, estava cansada e me sentindo um pouco doente, esta muito frio aqui, fui dormir cedo.

Um dia para nunca mais esquecer



Meu quinto dia na Índia foi um dos dias mais maravilhosos da minha vida. Eu seria responsável pela aula das 9:00 as 13:00, preparei algumas atividades com recortes de revistas, mudei as cadeiras em semicírculo, e pedi para que eles não se levantassem mais para responder quando eu perguntasse alguma coisa, a não ser que eles quisessem.
A aula foi interessante, eles perguntaram bastante sobre o Brasil, quiseram saber como se falava Obrigada e Bom Dia. Eles estavam conversando mais, sorrindo pela primeira vez. Eu falei para eles que quando eles fossem falar em público, ao invés de ficarem apertando as mãos e tremendo, eles podiam segurar uma caneta... iria aliviar a tensão. Toda vez que eles vão falar na frente da sala agora, eles levam uma caneta.
Quando me perguntaram por quanto tempo eu iria ficar aqui, e a professora censurou falando que não era educado se fazer perguntas pessoais. Eu respondi mesmo assim, dizendo que ficaria até o fim do curso deles (2 meses) foram os maiores sorrisos que eu já vi.
Quando a aula acabou eles passavam por mim dizendo “Muito Obrigada” senhora, em português, e enquanto eu esperava por alguém da organização me buscar, umas das meninas chamada Preti ( quando falado é o mesmo que Pretty – bonita em inglês) perguntou se podia sentar do meu lado. Ela me disse que queria agradecer por ter me conhecido, que ela estava indo para outro escritório então não iria assistir mais aulas lá, mas que eu tinha dado coragem a ela pra continuar enfrentando as dificuldades da vida dela. Ela sustenta a família toda, faz faculdade de contabilidade, dá aulas de reforço escolar para sustentar a mãe e os irmãos e trabalha no escritório. Mesmo nessa situação ela da aula para alguns alunos de graça, por que eles, assim como ela, não tem condições de pagar um professor particular.

 Voltei para casa sozinha, a primeira vez que andei sozinha na Índia por sinal, e depois de uma hora entre caminhadas e Auto rick-shaws cheguei em casa. Comi comida chinesa ( apimentada igual a Indiana) e depois conversei bastante com o Jimmit, um dos membros da Aiesec, 23 anos, formado em contabilidade. Estavamos conversando de relacionamentos, ele me contando sobre uma menina que ele gosta, como funcionam os casamentos arranjados aqui ( a maioria dos jovens são adeptos, dizendo que os pais são as melhores pessoas para escolher os maridos/esposas e que amor se aprende com o tempo).
Quando era a noite, o pessoal do outro apartamento ligou aqui falando que iriam em uma boate a noite, as festas aqui começam as 10 e acabam as 2 da manha normalmente e nós estrangeiros, não pagamos para entrar.
O lugar era interessante, era em um hotel. A música razoável, mas o lugar ficou muito cheio e eu não gosto muito desses ambientes então nem aproveitei muito. Nas boates os jovens se vestem mais como ocidentais, e para as mulheres, mostrar ombros é permitido. Não há contato entre homens e mulheres, porém, assim como nas ruas homens andam abraçados e de mão dadas.
 Depois de cerca de uma hora, fui com mais dois brasileiros ( Giuliana e Matheus) na parte aberta da balada, em cinco minutos um indiano se aproximou de nós e pediu para que o seguíssemos. Ele falava inglês, era de Nova Delhi e disse que no dia seguinte teria uma enorme festa no hotel. Eram esperadas 1000 pessoas e se quiséssemos trabalhar na recepção vestidos de russos - a festa era para a divulgação da vodca Eristoff ( mesma empresa da Smirnoff) -  eles nos pagava o quanto quiséssemos.
Mais uma vez nos aproveitamos do fato de sermos estrangeiros e 10 minutos depois tínhamos negócio fechado, seriamos 6 meninas e 4 meninos trabalhando e ele pagaria 3 mil rúpias para cada uma de nós e 2,5 para os meninos.
Fomos para casa dormir, no outro dia todos trabalhávamos.

Primeiro dia de trabalho.


Acordei cedo, me arrumei com as outras meninas e fui com o Ankit para o meu trabalho.  O que se vê nas ruas é uma mistura extremamente chocante de miséria humana, desigualdade e falta de dignidade pintada de as mais coloridas das cores, embaladas ao som de um transito caótico que não nos permite conversar enquanto andamos. São muitas pessoas, muitos cachorros e muitos gatos, vivendo em uma situação de praticamente igualdade morando em uma calçada  de terra se cobrindo com tábuas e lonas a cada esquina, tomando banho com baldes no meio da calçada, se aquecendo em fogueiras improvisadas e cozinhando com agua dos esgotos que correm a céu aberto. E mesmo assim, ao mesmo tempo transmite a maior paz e serenidade que eu já senti na minha vida.
Quando cheguei ao prédio do meu projeto, encontrei a atual professora, uma senhora chegando aos seus 50 anos, tradicionalmente vestida em um sare indiano e capaz de falar inglês e Bangoli ( língua falada no estado de West Bengal pelas castas mais baixas e tradicionais que muitas vezes não tiveram acesso nem ao aprendizado de Hindi, a Língua oficial do país). Ela vai trabalhar comigo, me ajudando na tradução e tendo certeza que pelo menos em alguns momentos, das 4 horas diárias de segunda a sábado em que os alunos em que os alunos estão no curso, eles sejam submetidos a mais rígida educação Indiana, baseada na repetição e humilhação pública dos estudantes ( mais isso é outro tópico).
Ao entrar na sala de aula, um lugar minúsculo onde 10 pessoas não ficariam confortáveis, para conhecer os meus estudantes, fiquei surpresa. São cerca de 20 homens e 3 mulheres, todos com mais de 20 anos, vindo de situações de pobreza e desigualdade, muitas vezes sendo arrimo de família e pagando pelo curso uma quantia altíssima, em relação as expectativas de remuneração deles, na esperança de conseguir um dia, garantir condições básicas de bem estar.
Quando entrei na sala todos se levantaram imediatamente, me deram um “Bom dia senhora Juliana” e ficaram esperando  minha autorização para sentar novamente. Eu podia ver nos olhos deles o nervosismo e o medo de simplesmente estar falando e o pânico de terem que responder alguma questão caso eu a fizesse.
Eu contei sobre mim, minha vida no Brasil, como inglês também não é minha primeira língua e como eu sei que é difícil romper essa barreira. Eles conseguem entender muito bem, embora no começo ficassem perdidos com o meu sotaque depois de algumas horas na sala tudo já era muito mais fácil. Mas minha surpresa toda começou quando eu pedi para eles se apresentarem.
Eles estavam vestidos nas melhores roupas que tinham as camisas velhas e calças sociais manchadas, alguns com sapatos e a maioria com sandálias e pés sujos, cadernos amassados, utilizados até o fim da linha para não desperdiçar folhas. Era como se eles tivessem indo para um corredor da morte, o pânico e nervosismo deles em falar em público e em inglês, uma língua que eles não dominam, quase me fez pedir para sair da sala de tristeza. A cada erro eram humilhados pela professora que os incentivava a continuar a apresentação com gritos e tapas na mesa. Com muito sacrifício aos poucos eu fui entendendo quem são essas novas pessoas que nunca mais saíram da minha vida.
Eles são formados em direito, pedagogia, ciências da computação, estão fazendo pós-graduação em matemática, desenvolvimento de sistemas, contabilidade ( existem muitos cursos superiores a distancia, o que permite um maior acesso a faculdade).  São professores, meninas de 23 anos que cuidam da mãe doente, dos irmãos e morrem de vergonha de dizer que o pai abandonou a casa alguns anos atrás. São jovens que tem que saíram das suas vilas a 200, 300 quilômetros daqui para fazer esse curso e tem que escolher entre comer ou pagar o ônibus ou metro para o curso todo dia. Que estudam e trabalham para pagar os estudos e sustentar famílias.
São jovens que nunca tiveram a oportunidade de falar, nunca foram ouvidos, não acreditam que tem potencial, mesmo tendo passado no exame de admissão de uma das maiores pós-gaduações em engenharia do estado e não tendo feito, por não ter dinheiro para pagar a matrícula. Eles tem medo de se expressar, de perguntar, de errar. Toda vez que a professora perguntava alguma coisa eles engasgavam, gaguejavam, apertavam as mãos e tremiam, o pânico deles era tão grande que meus olhos enchiam de lagrimas a cada vez que a professora os censurava e os mandavam sentar dizendo que eles não sabiam nada.
Eu fui para casa encantada com a oportunidade que tinha sido me dada, de fazer a diferença na vida dessas pessoas e ao mesmo tempo tentando entender essa louca realidade.
Mudamos para a nova casa, o apartamento é lindíssimo, são dois quartos muito grandes e vamos ser em 10 estagiarios por enquanto estamos em Brasil, Nova Zelandia, Ucrania, Polonia, Portugal.

O projeto, a diversidade e o encanto.


Pela manhã fui ao prédio do projeto no qual vou trabalhar, como ainda não sabia andar em Calcutá o Ajay me levou, outro membro da Aiesec. Esse escritório é uma organização ligada ao um projeto governamental chamada FREED (force for the rural empowerment and economic development), demoramos quase uma hora para chegar lá, entre ônibus, metro, e alguns minutos de caminhada.
O prédio fica em uma ruela, as acomodações são bem simples. O trabalho deles é capacitar jovens e adultos, que vem de um meio rural ( não exatamente o mesmo conceito de meio rural que temos, eles vem de vilas e vilarejos pobres no Estado de West Bengal) que tenham feito, pelo menos ensino médio e estejam procurando melhores oportunidade na vida.
As atividades que me foram passadas eram trabalhar com eles o desenvolvimento de ferramentas como comunicação, empreendedorismo e principalmente a melhorar o inglês deles. Embora eles tenham estudado inglês durante a escola, eles não vivem em um meio socioeconômico que garanta nem qualidade no ensino nem a possibilidade de praticar o que aprenderam na escola.
Eu adorei a minha chefe no projeto a Swati, uma senhora muito interessante, conversamos muito sobre a desigualdade social em países emergentes, os problemas que a estrutura social da Índia não consegue sanar, a questão do machismo aqui e outras coisas relacionadas a educação, desenvolvimento e economia. Eu sai de lá encantada com a possibilidade que me tinha sido dada... Mal sabia eu que estaria prestes a ter uma das mais maravilhosas experiências de toda a minha vida.

Depois disso fomos encontrar os outros estagiários que estavam assistindo a uma apresentação de natal em uma igreja.
Existem muitos cristões na Índia e essa organização católica ( frutos do trabalho católico de Madre Tereza de Calcuta) adotou mais de 100 crianças, fora as que vão assistir aulas na organização, e eles estavam lá, fazendo a apresentação de final de ano.
O mais interessante de tudo isso era ver a diversidade. No presépio, a Virgem Maria usava Sare. O padre estava vestido com roupas indianas. E as cerca de 60 pessoas entre parentes e pessoas da cidade que assistiam, cantam musicas católicas em Hindi.
As crianças apresentaram danças de diversos países, danças típicas daqui, e dançaram um projeto de quadrilha ao som de “Garota de Ipanema” em ritmo de samba. Meus olhos encheram de lágrima várias vezes. Nunca tinha presenciado tanta diversidade e tanta alegria no mesmo lugar ao mesmo tempo.


Eu tinha a ideia de que muito mais pessoas falariam inglês aqui. São poucos que entendem e menos ainda os que falam. Pegar taxi, metro, ônibus ou rick-shaws sem ter certeza da onde se está indo é impossível, eles nunca vão entender sua instrução, e se você ficar perdido não tem para onde correr. É bem assustador, a cidade é enorme (quase 14 milhões de habitantes) só as ruas principais tem nome e mesmo que tenham pontos de referencia os nomes são impossíveis de lembrar ou pronunciar.
 Passeamos em algumas lojas, comemos e voltamos para casa. O próximo dia seria meu primeiro dia de trabalho e a mudança para a nova casa.

London – Delhi – Kolkata


Bom, já estou aqui há 3 dias, ainda não temos internet e os dias estão sendo cheios.. Então vou começar a escrever sobre o que aconteceu (sem internet) e assim que tiver internet eu vou postando.
Depois de muitas horas no aeroporto de Londres, fui pra sala de espera um pouco antes do embarque. A sala começou a encher de pessoas, alguns eu podia identificar como indianos e outros pareciam árabes (depois descobri que são alguma coisa relacionada com mulçumanos mas indianos também). Foi engraçado porque o ambiente era todo indiano, os celulares das pessoas tocavam e os toques eram musica indiana... Quando fui arrumar minha bagagem, meu lenço escorregou e meus ombros apareceram, no mesmo segundo todos os homens estavam olhando pra mim... eu era a única ocidental na sala de espera...
Embarcamos, o avião era todo decorado com estampas indianas e com musica de fundo típica, foi bem legal! Não tinha ninguém nas minhas 3 poltronas então eu tive praticamente uma cama. Jantei alguma coisa indiana, era um arroz com frango e uma mistura de quiabo com alguma coisa que não consegui identificar e muito muito curry! Não estava tão apimentado, consegui comer quase tudo e depois tive uma boa noite de sono.
Chegando em Delhi ( o aeroporto é lindíssimo)  esperei um pouco e peguei o avião para Kolkata. O almoço também foi indiano e as aeromoças vestiam sare... Embora eu tenha falado para a aeromoça mais de 5 vezes que eu não era vegetariana me deu a comida vegetariana, era arroz, batatas com pimentão e tofu em um molho de tomate, estava apimentado, mas gostoso.
Quando cheguei ao aeroporto eu estava tão preocupada com as minhas malas que nem percebi quando cai na armadilha dos carregadores de mala... Quando vi, já tinha um indiano com um carrinho do meu lado falando que iria me ajudar a pegar as malas (e eu teria que pagar em troca). Peguei minhas malas, paguei (ele queria 20, eu dei 10 dólares, depois descobri que o preço verdadeiro é 2 dólares)...e fui para o portão de saída.
Isso era em torno de 16:00 e o Ankit  estava me esperando... Eu não o conhecia ainda, mas ele estava com uma camiseta da Aiesec e eu era a única não indiana saindo do portão de desembarque, então ele me reconheceu...
Pegamos um taxi para a casa que eu iria ficar (da Samta outra menina da organização) foi meu primeiro choque... O transito daqui e simplesmente caótico... São carros, motos, rick-shaws ( carrinhos com um pequeno motor ou bicicletas) ônibus e caminhões. A s ruas não tem faixas, nem sinaleiros e os carros buzinam sem parar. É como se fosse uma linguagem de transito, toda vez que os veículos se cruzam eles buzinam, toda vez que alguém passa perto, eles buzinam, toda vez que cruzam uma rua eles buzinam, é uma loucura parece que os carros vão bater a qualquer momento...
Depois de uma hora no taxi (e apenas nos custou 250 rupias – cerca de 5 dólares). Fomos para um lugar com narguilés e almofadas e conhecemos os outros estagiários.
Os banheiros aqui são bem diferentes, eles não usam papel higiênico, então todo banheiro tem uma torneira um balde e uma canequinha e eles se lavam com aquilo... mesmo em banheiros públicos.  Já da pra imaginar a bagunça que fica, com agua para todo lado e tal... 

Pensei que eu ficaria muito mais chocada com a Índia, apesar de sem sono (devido ao fuso horário) fomos dormir para conhecer o meu novo trabalho no outro dia.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Bauru- São Paulo - Londres


Bom, Post rápido do aeroporto de Londres! Embora aqui eu tenha acesso ilimitado a Internet ( cadastro que fiz 1 ano atras nos EUA mas ainda funciona não sei como) as tomadas daqui não encaixam na minha, logo tenho uma bateria de tempo de vida.

Sai de Bauru ontem, 11 e pouco da manha, fui pra Guarulhos, o avião demorou um pouco menos de uma hora e eu capotei... não se como!
Cheguei em São Paulo, peguei as malas e tal isso já eram 13:00 e meu voo era as 23:50! (suuuper legal passar tempo no aeroporto).
fiquei á passeando, vendo filme tentando achar Internet barata. Quando eram umas 16:00 a Thais ( outra menina indo pra Índia também) chegou, fomos na anvisa choramingamos uma meia hora pra conseguirmos a Carteira Internacional de vacinação contra febre amarela, pois ontem era Domingo e a Anvisa só faz plantão de Domingo, teoricamente, não atende maaas conseguimos.
A Thaís foi para o embarque umas 18:00 eu voltei a ler livros e ver filmes e entrei no embarque 21:30. Foi o melhor voo da minha vida, a TAM ta de parabéns!
Os avião era muito confortável, a comida comível e estava bem vazio. Assisti o resto de "Quem quer ser um milionário", tomei 1 dramin e capotei nas 3 poltronas vazias que tinham na minha fileira! Dormi melhor do que na minha casa... hahaha
Chegue em Londres 11 horas depois eram 14:00 aqui e vou esperar até 21:30 pro meu outro voo.
Londres pareceu muito mais "verde" de cima do que eu imaginava , o clima também não está muito frio, eu estava de jaqueta e sentindo calor. Fomos de ónibus do desembarque pra parte de conexão foi legal ver o motorista dirigindo do lado direito!
As pessoas aqui parecem mais simpáticas que os americanos, pelo menos por enquanto!! ahhah

No próximo voo a companhia já é indiana, acho que a aventura começa lá!
Por hoje é só pessoal, assim que eu tiver Internet eu entro pra contar mais!

Namaste e aproveitem o começo de semana de vocês fora de aeroportos!
=)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Malas, ultimas expectativas e despedidas.



Pensei que meu próximo post seria só no aeroporto... mas como vou ter muito tempo para escrever lá e não quero ficar escrevendo textos enormes aqui vai mais um.
Cheguei na casa da minha mãe ontem a noite, trouxe a maioria das minhas coisas de casa (já que as férias são de 3 meses e a minha casa vai ficar sozinha por algum tempo) e hoje cedo comecei a arrumar as malas.
Segui uma dica muito útil que eu não lembro onde eu li...
1- separe tudo aquilo que você quer levar e divida em categorias (sapatos, calças, higiene, etc)
2- pense em quantas semanas vai ficar, imagine o que você usa normalmente em uma semana, multiplique pelo tempo de estadia e elimine todo o resto.
3-reduza pela metade tudo que sobrou
4-enrole para não amassar e não ocupar espaço e coloque na mala

Acredite em mim, mesmo depois disso você não vai usar nem metade do que ta levando!

Malas prontas, comprei algumas coisas que faltavam (dramin e lenços umedecidos), comprei minha passagem de avião para São Paulo ( o plano inicialmente era ir de Ônibus mas a diferencia seria pequena e o risco de eu me perder/ser roubada/morrer de exaustão por mais de 40 horas sentada em 3 dias seria menor) e algumas comidas típicas para levar em um evento chamado "Global Villages" em que todos os intercambistas se reúnem para mostrar coisas sobre o país de origem.

Fiz meu cadastro no site da ANVISA para tirar o Certificado Internacional de Vacinação quando tiver no aeroporto de Guarulhos ( uma dica pra quem ainda ta tirando o visto, eles pedem a Carteira Internacional, mas como eu moro 9 horas away de São Paulo e não queria ir lá tirar só pra isso, mandei a carteirinha de vacinação e aceitaram!).
E agora é só esperar mais um dia para estar lá!

Bom, depois de toda a parte operacional que eu contei, vou ao ponto que me levou a escrever esse post!
Queria agradecer do fundo do meu coração duas pessoas que são fundamentais na minha vida e que, com certeza, foram fundamentais para esse e outros muitos planos da minha vida darem certo.
Mãe, muito obrigada por sempre estar do meu lado em todas as minhas loucuras. Eu sei que esses vão ser mais um dos Natais (últimos 3 consecutivos, por sinal) e seus aniversários (segundo consecutivo) que eu passo longe de você, mas tenha certeza que sempre vou estar pensando em quanto te amo!
Julian, muito obrigada por ser a pessoa mais maravilhosa do mundo e estar do meu lado me apoiando em todos os meus planos e sendo parte deles. Como eu já te disse, nesse último ano só existe nós nos meus planos e todo o seu apoio nessa viagem está sendo mais uma prova do quanto "we are meant to be!"

Por hoje é só pessoal!
Namaste!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O antes da partida, como isso aconteceu e como (eu acho) que vai ser...


O primeiro post é sempre o mais difícil...
Vou começar explicando um pouco de como tudo isso aconteceu, da onde surgiu a idea da Índia e minhas primeiras expectativas.
Há exatamente 2 meses atras, eu recebi um e-mail pelo grupo da Empresa Júnior( da qual faço parte) falando sobre uma parceria com a AIESEC para intercâmbio, achei interessante pela oportunidade de poder fazer mais um intercâmbio no período de férias, mandei e-mails, fiz o cadastro, fiz a entrevista e fui aprovada. Até ai eu não tinha ideia nenhuma sobre a grandeza da AIESEC, pensei que seria quase impossível arrumar uma vaga de intercâmbio, tirar visto, comprar passagens e tudo mais em menos de dois meses, que seria quando eu sairia de férias. Eu lembro que quando fui Au Pair foram mais de 8 meses de preparação e mesmo assim na correria. Como tinha a possibilidade de ir no meio do ano seguinte e queria conhecer o programa não me preocupei.
Cerca de um mês depois com quando tive acesso ao portal pela primeira vez, vi milhares, repito, milhares de vagas para todos os tipos de projetos em países que eu nunca soube, sequer, da existência. Me candidatei para vários que eu me identificava, em todos os países que eu poderia arcar com as passagens rs, e para a minha surpresa em menos de uma semana eu tive respostas de praticamente todos e muitos outros que eu nem tinha me candidatado.
Caixa de e-mail cheia, começa o maior de todos os problemas... qual escolher! Quando as opções são poucas, é muito mais fácil, mas quando se tem 30, 40 opções de cidades em diversos países e centenas de projetos em cada lugar e menos de um mês pra estar lá é difícil... bem difícil.
Comecei a eliminar os projetos que não tinha relação com a minha área ( administração) e os que não davam moradia gratuita. Eu queria muito ir para China, mas os projetos lá eram todos culturais.No final tinham opções (Colômbia, Ghana, e Índia) e alguma coisa me chamou para Índia.
No final das contas, embarco Domingo para Calcutá. Vou trabalhar em um projeto em uma ONG que dá assistência a jovens empreendedores.

Eu não sei realmente por que escolhi a Índia, nunca foi um sonho viajar para lá, acho que, embora sempre me fascinou, nem se passava pela minha cabeça essa possibilidade. Mas a partir do momento que ela se tornou uma opção não saiu mais da minha cabeça...
Acho que alguma coisa relacionada com as cores, os sabores da Índia me atrai... quando eu fiz meu primeiro intercâmbio (1 ano nos EUA) eu esperava muito pelo choque cultural e não via o hora de entrar em uma nova realidade. Embora minhas expectativas tenham sido, em todos os aspectos, superadas eu fui introduzida em uma nova realidade com doses homeopáticas. Eu tive bastante tempo (e gostaria muito de ter tido mais) para entender, para me acostumar e aos pouquinhos absorver aquela cultura. Em um país de primeiro mundo, com conforto e um bom salário, em poucas semanas eu já me sentia como parte daquilo.
Acho que o que eu procuro na Índia é esse choque, estar em um lugar totalmente diferente do meu, desenvolver um projeto com pessoas formadas em outros países, com outras cabeças e conceitos, literalmente me jogar em alguma coisa que eu não tenha, nunca, nem imaginado como é.

Acho ( e quantos "achos" para um post só) que por hoje é isso. Durante minha jornada de viagem (domingo - terça) vou ter bastante tempo para escrever. E logo menos os "achos" vão encontrar a realidade.

Quem quiser conhecer mais sobre a AIESEC ( e vale a pena!) http://www.youtube.com/watch?v=oioZOWm1jOU

Namaste!