terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Último dia de trabalho e Darjeeling

O tão (não) esperado dia chegou, o último dia de trabalho.
Foi tudo estranho, aquela coisa de tentar parecer natural... a aula começou bem, conversamos bastante, eles , como sempre, reclamaram da professora efetiva ( que ainda está de férias).
No final da aula os alunos me disseram coisas bonitas, pegaram meu endereço no Brasil e os dois que tem e-mail, o meu e-mail. Me deram uma bolsa de presente e uma caixa de doces Indianos, a bolsa deve ter sido cara, parece ser de coro e eu vi eles juntando o dinheiro, acho que pegaram 50 rúpias de cada.
Hoje recebi um e-mail de um dos alunos, falando que todos estão insatisfeitos com a professora antiga (a que grita, humilha e expõe eles), dizendo que alguns deles querem deixar o curso e me pedindo para conversar com a diretora do escritório.



Me sinto feliz por saber que eles reconheceram o meu trabalho, foi realmente um grande desafio ensinar inglês, sem ser fluente, para adultos, que falam com sotaque forte, vem de situações adversas, têm uma cultura totalmente diferente de tudo que eu já tinha vivenciado.
Mas ao mesmo tempo me sinto mal por ter provocado o desconforto. Se eu não tivesse vindo, se eu não tivesse ensinado lá, talvez eles ainda estivessem satisfeitos com as aulas. Quando eu participava dos estágios de vivência em assentamentos rurais, nós chamávamos isso de não intervenção. O primeiro passo do agente transformador é observar o ambiente e a partir de então elaborar isso, e não introduzir mudanças sem saber se a estrutura está preparada para recebê-las.
Amanhã vou voltar no instituto, conversar com a diretora e ver se tenho abertura para falar um pouco sobre o que os alunos me falaram.
Na sexta mesmo saímos para Darjeelin, chegamos no trem, nós 4 tínhamos conseguido ficar na mesma cabine ( feita para 6 pessoas). Os outros dois coleguinhas eram Ingleses ( os únicos estrangeiros no trem)  e assim prosseguimos pelas próximas 10 horas, nós 6 e alguns camundongos que estavam correndo pelas beliches.
Chegamos na estação de trem e fomos procurar pelo jipe que nos levaria pra Darjeelin, até então eu não tinha entendido o porque precisávamos de jipes. Montanhas, altitude, ok... mas porque não podíamos pegar um taxi?
Pelas próximas 3 horas e meia eu fui introduzida bruscamente à realidade haha. O caminho de pedras, com espaço suficiente pra meio jipe, por onde passavam dois e uma subida sem fim em uma versão túnel do terror da serra de santos me mostraram o porquê dos jipes(daqueles fechados para 10 pessoas). Para melhorar a nossa situação, em certo ponto o jipe morreu, e a subida é tão inclinada que o motorista não conseguia liga-lo de novo. Tivemos todos que sair do jipe e andar morro acima por 5 minutos eu meia hora, não sei ao certo (a subida e o efeito da altitude fizeram esse momento parecer sem fim).
Chegamos em Darjeeling, achamos o hotel, barganhamos o preço, passeamos de maria fumaça, comemos. No outro dia acordamos às 3 da manhã para ir ao Tiger Hill ver o nascer do sol nos Himalaias. A chinesa não estava muito bem, então fomos só nós 3 ( eu, a outra brasileira e o chinês/canadense). Frio, muito frio. Eu estava com 2 meias, 3 calças, 2 blusas e 2 casacos, gorro, luvas, e enrolada em um cobertor e ainda com frio.  Mas o nascer do sol é lindo.

Eu nunca fui fã de viajar para pontos turísticos, tirar fotos, ver cenários. Sempre preferi pessoas. Mas ver o Himalaia ali, do seu lado, aquele Himalaia que você ouviu falar a vida toda, nas aulas de geografia, na televisão, nos livros, isso é impagável.




Durante a tarde passeamos, visitamos uma cidade 3 horas distante de Darjeeling, vimos as plantações de chá ( famosas mundialmente), passamos pela borda do Nepal. Fomos a um templo japonês, tocamos tambores e cantamos o mantra.


Na segunda passeamos pela cidade e voltamos para a estação de trem. A descida de jipe não é nem um pouco mais agradável que a subida, ainda mais quando se pega quase uma hora de engarrafamento de jipes nas montanhas (?!?!). Depois de muita barganha, de 350 conseguimos chegar a estação por 60 rúpias ( chega uma hora que cansa barganhar até para respirar aqui, basta ser estrangeiro que o preço inflaciona no mínimo 5x). Pegamos o trem, que ela primeira vez não estava congelantemente frio, mas cheio de velhos gordos roncando e etc e tal durante a noite.
Hoje não fiz muito, arrumei minhas malas, sai para resolver algumas coisas, encontrei um amigo Indiano (odeio despedidas).
Comprei um livro sobre a vida de Buda e achei essa conto interessante, vale a pena deixar aqui:
Uma vez, Gautam Buddha estava passando por uma vila e foi cercado por uma multidão que o insultava e lhe dizia coisas ruins por ele não reconhecer o Hinduismo.  Ele ouviu tudo e continuou em silencio. Seus discípulos estavam cheios de fúria, mas não podiam fazer nada uma vez que o seu Mestre estava em silencio como se todas as pessoas estivessem dizendo as coisas mais doces possíveis.
Finalmente Buddha disse a multidão:” se vocês já terminaram de dizer tudo o que precisavam, eu gostaria de continuar a minha jornada para a próxima vila onde as pessoas estão esperando por mim. Mas se ainda não terminaram, eu volto em alguns dias e os aviso. Ai vocês terão tempo suficiente para me dizer tudo o que querem.”
Um homem disse: “ você acha que estamos te dizendo alguma coisa? Nos estamos te condenando! Você não está entendendo? Porque qualquer um estaria furioso. E você está em silencio o tempo todo.
(...)
Então Buddha diz: “Eu gostaria de lhes fazer uma pergunta. Na última vila, as pessoas me receberam com frutas e flores. No entanto não pudemos aceitar pois já havíamos comido e não carregamos coisas em nossa jornada. Nós pedimos desculpas e dissemos que iriamos carregas apenas o amor deles. O que vocês acham que eles fizeram com os doces e as flores depois?
Então um homem responde: “ Qual é o mistério nisso? É claro que eles distribuíram as flores e doces pela vila.”
E Buddha diz: “ Isso me deixa realmente triste. O que vocês irão fazer? Pois eu não aceito o que vocês trouxeram, da mesma forma que não aceitei os presentes na última vila. O que vocês vão fazer com todo esse lixo que me trouxeram? Vocês terão que levar para suas casa, distribuir entre sua família, amigos vizinhos. Terão que levar de volta, porque eu não aceito isso. Vocês não podem me atingir a não ser que eu aceite a humilhação e o insulto que vocês trazem.
Insultar a mim é seu problema. Eu posso simplesmente ouvir a isso e continuar meu caminho.

Até logo pessoal!




quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Não aprendi dizer adeus...

Ai, ai, ai ta chegando a hora!
Amanhã começa minha última semana na Índia, e amanhã também, é meu último dia no trabalho!
Meus posts também estão chegando ao fim, viajo sexta para Darjeeling para ver os himalaias e as plantações de chá, e depois, logo logo, estou indo pra casa.
Acho que nunca na minha vida eu aprendi tanto quanto nesses 2 meses na Índia. Nós, seres pensantes, sofremos desse problema de grandiosidade, de achar que sabemos de tudo. Estar em um lugar onde esse tudo é absolutamente diferente (e conseguir absorver isso) nos mostra o quanto nosso círculo é pequeno, o quanto limitado é o nosso saber.
E principalmente o quanto temos potencial para fazer o melhor da nossa vida. Bastou eu levantar a bunda da cadeira e me mexer para ir atrás de conhecer algo novo para eu encontrar pessoas e amigos maravilhosos, para me sentir muito melhor comigo mesmo.
Uma das melhores coisas que fiz aqui foi exercitar minha capacidade e experimentar.  Tanto coisas novas como coisas velhas (feitas de uma nova forma) e tudo começou pela comida. Acho que uma das maiores dificuldades aqui é a comida, é muito difícil saber o que se está comendo, conseguir pedir o que se quer e nem vale a pena comentar quanto a questão da higiene.
Na minha segunda semana aqui, eu já tinha achado 2 ou 3 lugares onde eu conseguia pedir comida e eu sabia que eu ia conseguir comer. Foi então que eu pensei: “ Eu atravessei o planeta pra fazer/comer  a mesma coisa todo dia? Nem fu^&%$#!”  Desde então, eu prometi para mim mesma que todo dia ia comer alguma coisa diferente, alguma fruta, algum prato, algum molho. O importante era que eu nunca tivesse experimentado antes.
E parece que desde então a minha percepção de várias coisas vem mudando. Quando eu peço prato X e recebo prato Y, acho divertido experimentar alguma coisa nova. Quando fico perdida, tiro um tempo para andar pelos arredores (perdida por perdida, no fim vou ter que me virar para voltar pra casa de qualquer forma). Pergunto sobre assuntos que não me interessariam antes, vou para lugares que eu sei que eu não gostaria de ir antes, mas tento ver com outros olhos, quando quero pedir informação não procuro mais pelos sapatos sociais ( para tentar achar alguém que fala inglês nas ruas quando precisamos, procuramos pelos sapatos, se não estão descalços, ou com chinelos e sandálias, a chance de falarem inglês é maior) e sim pergunto para todo mundo até achar o que quero.
Ontem passei o dia andando pela cidade sozinha, fui aos mercados, nas feiras, para achar as ultimas coisas que eu queria levar para casa. Experimentei roupas, sapatos, chás, temperos, musicas, livros.  Conversei em Inglês, Hindi, Bengoli, espanhol, falei sobre o Brasil, sobre meu trabalho, minha faculdade, sentei com os vendedores da feira, tomamos chá.
Hoje meus alunos quase me fizeram chorar. Todos os dias eles perguntam quando eu vou embora reclamam de ter que ter aula com a professora velha depois que eu for e tudo mais, mas hoje como penúltimo dia foi o grande choque. Já é amanhã!
Os dois alunos que eu sou mais próxima falam todo dia que vão sentir minha falta e quanto importante tudo isso foi pra eles, mas hoje dois outros alunos que não falam muito resolveram falar.
Um disse que ia ficar esperando eu voltar pra Índia e que tinha medo de que eu esquecesse eles. O outro, bem mais velho, disse que aqui na Índia, homens não choram, então eu não ia vê-los chorando amanhã, mas que com certeza eles todos já estavam chorando por dentro. ( e eu chorando por dentro e por fora enquanto escrevo).
A mesma sensação  que eu tive quando estava indo embora dos EUA eu estou tendo agora, eu pensei que isso não ia acontecer, fiquei aqui só 2 meses, mas está sendo muito mais forte. A sensação de que é a ultima vez que passo por determinado lugar, ultima vez que aceno ou sorrio para determinada pessoa, ultima vez que converso com alguém. E que mesmo que eu volte daqui 6 meses, um ano, ou 10 anos, nunca mais vai ser igual. Nunca mais vou começar minhas noites conversando em hindi-bengoli-inglês com o menino da barraquinha de comida, passar as tardes tomando chá na loja de temperos e falando sobre Pelé, Kaka e Ronaldinho, ou gastar 30 minutos todo dia para conseguir explicar que quero meu almoço sem chilli ou ficar feliz simplesmente por ter acordado mais um dia sem dor de barriga.
Hoje terminei de ler um livro que trouxe do Brasil, e uma das citações diz:
“... Meu primeiro professor costumava ter uma espécie de batalha de apostas com o universo. O universo faz algo de bom pra você e você responde:
- Ah, você acha que isso foi bom, Rá! Veja só o que eu vou fazer por você; vou te dar o troco em dobro
- Ótimo, mas agora vou retribuir a você em dobro – prossegue o universo. Então você continua:
- Ainda não estou impressionado...”
E realmente, tudo isso que aconteceu e está acontecendo aqui está sendo maravilhoso. Agora é a minha vez de dar o troco...




Quer conversar sobre a despedida da professora enquanto ela está na classe e sem que ela entenda, simples, é só falar em Bengoli. 
Bala de café e doce de banana.


Suco de guaraná







terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Hare Krishna, Hare Krishna, Hare Hare...

Depois de muito tempo, aqui estou eu de volta! Meu sumiço se deu parte pela correria, parte pela internet que parou de funcionar e principalmente pelo desanimo de estar indo embora... esses meus dois meses aqui seriam perfeitos se não fosse pela parte da despedida.
Na semana passada tivemos 3 feriados aqui ( segunda, quinta e sábado). A maioria do pessoal foi viajar mas eu não fiz muito.
Fui no cinema, é bem interessante aqui, os vendedores de comida ficam dentro da sala oferecendo comida (indiana, é claro) e pegando os pedidos antes do filme começar e no intervalo no meio do filme.
Na Terça fui na barraquinha de comida de rua aqui perto de casa onde sempre comemos. O dono fala um pouco de inglês mas os meninos que cozinham não. Mesmo assim toda vez que vou fico la batendo papo com eles na linguagem universal (eles demoram bastante para entregar a comida, uma vez que um bando de estrangeiro na barraquinha chama clientes). Na terça levei uma nota de 2 reais para eles, porque eles tinham comprado uma nota do chines no dia anterior e queriam uma de real. Eles queriam comprar, mas convertendo isso seriam 60 rupias, e é bastante dinheiro por um pedaço de papel pra quem vende refeições por 25 rupias. Dei a nota de presente, e o dono me falou pra voltar na quinta que ele teria uma coisa pra mim.
Na Quinta a noite passei lá, ele me viu e saiu correndo pra buscar o que ele ia me dar, chegou com um embrulho lindinho e uma fada de presente pra mim, fiquei tão feliz que nem sabia como agradecer, quero voltar lá mas tá difícil de encontrar tempo!
Hoje uma das minhas únicas 2 alunas mulheres também me levou um presente, uma caneta! Pelo menos ela eu pude abraçar para agradecer.

Ainda na Quinta fui buscar um pessoal que veio de outra cidade para ir para Mayapur (maior centro Hare Krishna do mundo) com a gente, como o aeroporto é bem longe e ia me custar umas 400 rúpias para ir de táxi (15 reais) eu decidi que iria de metro até o final da linha e depois pegaria um táxi de lá.
Resultado, fiquei perdida por 2 horas no lugar mais pobre que já vi na cidade até hoje, esgoto correndo a céu aberto, pessoas morando em barracas de bambu, vacas e cabras por todos os lados, e claro, ninguém que pudesse entender inglês. No fim deu tudo certo, e na sexta saímos para Mayapur.
Fomos de trem, 3 horas e meia naquele aperto e balanço que só um trem indiano que custa 20 rúpias (70 centavos) pode proporcionar.
Chegamos lá, pegamos o Rick-shaw de bicicleta, depois um barco, depois mais um Rick-shaw e, por fim, achamos um hotel para passar a noite.

No sábado cedo fomos para o templo ver a morning pray, é tudo muito alegre, música, dança, flores e frutas e muitos estrangeiros. Os chineses encontraram chineses que moravam lá, fomos ter café da manhã na casa deles, eles nos explicaram sobre Krishna, a religião, os costumes.


Depois disso encontrei um dos meus alunos, que mora cerca de 1 hora de lá, ele nos convidou para almoçar na casa dele e depois de 2 ônibus chegamos lá'. Conhecemos a mãe, o irmão e um dos amigos deles, eles nos serviram frutas, doces, chá, biscoitos e a mais maravilhosa de todas as comidas indianas que já comi.




Depois da incrível tarde, voltamos pra Mayapur, adoro andar de ônibus aqui, apesar do aperto e tudo mais, da pra ir vendo as vilas, as estradas. E quanto mais entendo e aprendo sobre a Índia, mais triste é essa realidade. Sempre que passávamos pelas vilas eu via barraquinhas vendendo pedaços de galho de árvore, e pessoas mastigando esses galhos, eu achava que era algum tipo de cipó, ou qualquer coisa assim ( aqui eles mastigam fumo a maior parte do tempo). Pouco tempo atras descobri que eles usam isso para limpar os dentes ( assim mesmo, como seu cachorro faz com os galhos no quintal de casa) já que a maioria da população desses lugares não tem acesso a água potável, muito menos a escova de dente.

De volta ao templo, vimos a cerimonia noturna com direito a muita música, elefantes e vacas, e comemos no templo, confesso que uma das coisas que mais vou sentir falta daqui é comer com as mãos!




Fomos para o hotel, aproveitar as nossas poucas horas de sono. Acordamos as 4 para ver a primeira cerimonia e depois pegarmos um ônibus de volta. já que a experiencia do trem não tinha sido muito agradável. Apesar de todos terem conseguido sentar no ônibus, foram momentos de terror, na estrada esburacada e com ônibus e caminhões que não respeitam nenhuma regra de transito. Chegamos em casa por volta das 11 da manhã. 
No domingo a tarde eu e a canadense fomos em um evento em uma faculdade aqui, que a Aiesec estava apoiando. Foi divertido, embora eu estivesse bem cansada.

Cheguei em casa, depois do fim de semana exaustivo,  me preparei para dormir e quando estava começando a entrar em alfa, meu celular toca. Era um dos Aiesecers, me perguntando ( comunicando) que eu teria que ir com eles para um seminário em uma cidade qualquer para contar da minha experiência.
Perguntei quanto longe era e ele me disse algumas poucas horas, e eu acreditei ( ahá, otária).
As 5 da manhã estou eu saindo de casa de novo, depois de 4 horas de sono para pegar o trem.
Então, 10 horas e meia depois, um táxi, um trem, dois autos rick-shaws  e um ônibus, chegamos ao instituto de tecnologia onde iriamos fazer o seminário.
Demoramos quase meia hora para chegar do portão ao hotel dentro do campus onde deixamos as coisas
(só o hotel era umas 2 vezes maior que o meu campus, ai, ai Tupã...)
Apresentamos o seminário sobre intercâmbio pela AIESEC para cerca de 200 estudantes de engenharia e 4 horas depois(cerca de 9 da noite)  estávamos voltando para Calcutá.
Chegamos na estação de trem as 7 e meia da manhã, peguei um táxi e fui direto pro trabalho.
Essa é minha última semana lá, não quero nem pensar em ir embora! :(
Saí do trabalho as 13:00, o chefe da minha ONG foi me buscar e fomos para a feira de livros aqui.
É a segunda maior feira do mundo, e o público esperado esse ano e de 2 milhões de pessoas.
É incrível a quantidade de gente e o interesse por livros aqui. Passei a tarde andando na feira, caçando os livros escritos em inglês, já que a maioria era literatura Bengoli ou Hindi. Comprei algumas revistas.
Encontrei o pessoal no metro, comemos e viemos pra casa, finalmente consertei a internet, agora posso começar a por meus trabalhos de update de mídias da NGO em dia.
Logo mais posto aqui sobre os fóruns ambientais que estamos organizando para o meio do ano.
Deixa eu dormir, antes que mais alguma aventura extrapolante se jogue na minha frente!

Saudades daí, e o amor por aqui estão conflitantes!
Namaskar!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Aonde foram todas essas meninas? (Where all these girls have gone?)


Finalmente tenho forças para escrever novamente!

Vou escrever cronologicamente, até chegar ao ponto que explica o título, tenham calma. =)
Chegando da viagem e doente, achei que iria melhorar em um ou dois dias, como sempre acontece. Mas não, dessa vez a coisa foi séria, passei a frequentar o banheiro a cada 10 ou 15 minutos e não conseguia comer nada (agora é cômico, mas não era, tá?). Para dificultar minha situação, todos no escritório estavam viajando e eu não podia tirar nem um dia de folga. Durante Segunda, Terça e Quarta não fiz muito, além do caminho cama e banheiro. Na quinta eu estava bem mal, queria ir ao hospital, mas só de pensar em achar o hospital (ou um taxi ou qualquer coisa que me levasse para o hospital) decifrar o Hindish (inglês com Hindi) e tudo mais me desanimava. Ai lembrei da farmácia aqui perto, e do senhor que fez toda a consulta médica quando fui lá para comprar um sorine. Quando eu estava voltando do trabalho fui lá, ele me deu um pozinho para hidratar e alguns comprimidos para alguma coisa que eu não entendi.  No mesmo dia já consegui comer, e hoje estou novinha em folha.

Do mais, a casa aqui tem dois quartos, em um ficam as 3 brasileiras, o brasileiro que está fazendo o estagio profissional, o português quando vem passar o fim de semana aqui e o outro brasileiro.
No meu ficam eu, a canadense, o canadense/chinês, a russa e a chinesa que chegou agora ( afinal, brasileiro tem de punhados no brasil). E tirando a chinesa que eu não entendo nada do que fala, eu realmente gosto dos outros.  Mas na Terça, todos menos a canadense foram pra um outro apartamento, o que me deixou mais desanimada ainda. Hoje eles mudaram e volta pra cá, fiquei feliz.
Ontem recebi uma ligação do meu escritório(Technable Solution)  falando que hoje teria alguma reunião com a organização chefe ( FREED) se eu queria participar. Como realmente amo o que estou fazendo, mesmo sem forças, aceitei.

Hoje eu acordei super bem disposta. Fui para minha aula, e conheci o responsável pelo FREED, ele disse que teriam alguns estudantes americanos que vieram para intercâmbio em uma faculdade da cidade e que iriam ter uma reunião para recebê-los e ele queria que eu fosse junto. O sotaque dele é muito forte, e até agora, mesmo depois de horas ouvindo ele falar, ainda não entendo mais que 60% do que ele diz.
Consegui entender melhor a estrutura da organização, o FREED ( Force for Rural Empowerment and Economic Development) é uma ONG que suporta vários projetos e está ligado ao meu projeto pela parte social. O meu projeto ( Technable – habilitando pessoas, dando poder aos negócios e enriquecendo a sociedade) por sua vez está ligado com o Governo do Estado de West Bengal e da Índia que também suportam o FREED.

O FREED também trabalha com outras linhas de projetos, fortalecendo a arte e educação nas vilas ( zonas rurais muito pobres), ajudando a desenvolver sustentabilidade e empowering mulheres, trabalhando com fontes alternativas de energia, e biodiesel e levando centro de educação para meninas nas vilas ( onde ir para escola é apenas uma opção para meninos).
As 3 americanas chegaram, continuaram com a mesma cara azeda durante toda a apresentação,  tentei puxar assunto, perguntar se queriam conhecer o pessoal aqui, elas não se importaram. Não se interessaram pelo projeto, ou se se interessaram o gato comeu a língua delas e em meia hora, foram embora. 
Uma vez li um livro sobre economia e o futuro dos países emergentes que dizia que uma vez que algum país consiga a posição de líder mundial no lugar dos EUA, os americanos estão destinados a mais rápida e profunda queda econômica da história. Pois são o único povo, que ainda hoje em dia, não tem a capacidade, ou interesse, de aprender sobre o resto do mundo e se adequar a isso... (mas isso é assunto pra outro post).

Continuei conversando com os responsáveis por um longo tempo e eu provavelmente vou continuar ajudando o projeto quando voltar pro Brasil (escrevendo artigos e atualizando as mídias) eu sei que não tenho  tempo pra nada no Brasil, mas vou dar um jeito.
As vilas que eles atuam são realmente pobres, não existe energia em nenhuma delas. Em Dezembro eles finalizaram um projeto para levar lamparinas que funcionam com energia solar para uma das vilas. Eu li a reportagem e lá diz que um dos professores aposentados chorou de emoção quando viu as lamparinas, pois agora as crianças poderiam estudar mesmo depois que escurecesse. 
No dia 31 de Dezembro, nasceu o primeiro bebe no centro médico que eles conseguiram montar lá, e mesmo com complicações no parto o bebe sobreviveu. O que não seria possível com as lamparinas de querosene usadas anteriormente, uma vez que a fumaça intoxicaria o bebe. 

O ponto mais forte do projeto é a inclusão social de mulheres, a Índia (assim como a China) sofre muito com o problema do preconceito com mulheres.  O feticídio e o aborto de meninas são muito comuns aqui, tanto nas castas mais baixas quando nas mais altas ( os médicos são proibidos por lei de dizer o sexo do bebe antes do nascimento, para evitar o aborto de meninas – nada que não possa ser corruptível).Mesmo nas comunidades, tribos e vilas que não praticam esse tipo de eliminação feminina, as meninas não tem direito a nenhum dos privilégios masculinos. 

Hoje durante a apresentação do projeto o diretor contou que em algumas comunidades, quando o primeira criança da família é menina, eles dão o nome de Chi Na (indesejável, aquela que não é querida Chi/querer Na/não) por esperarem um menino. O projeto atua nesse foco, levando a escola, educando, capacitando e dando uma fonte de renda a essas meninas/mulheres. Tentando fazer meninas serem Chi.
Na parede da sala estão várias fotos dos projetos, e uma cartolina com várias carinhas de meninas coloridas, e algumas delas sem rosto e em baixo a frase: “Where all these girls have gone?” (Aonde foram todas essas meninas?) em uma campanha para tentar mudar essa triste situação.

Passo por esse dia fantástico, chego em casa, entro no meu Face Book, e as pessoas estão falando do BBB e da história da Luiza. Não quero parecer antissocial, socialista revoltada ou alguém que acredita que vai mudar o mundo sozinha. Mas é muito difícil entender como existem pessoas com tão pouco que fazem tanto pelos outros e por elas mesmas e outros com tanto e fazendo questão de desperdiçar cada uma dessas oportunidades.

E mais uma vez, pra que ainda não consegue entender o porque de atravessar o mundo para vir trabalhar de graça e passar o tempo com diarreia, e principalmente para aqueles que querem fazer alguma coisa como isso mas ainda não têm certeza, vejam se existe coisa mais gratificante do que abrir sua caixa de e-mail e receber uma mensagem como essa de um querido desconhecido indiano  (a friend from now on, for sure!/ que agora é um amigo, com toda certeza):

firstly,must say,synchronicity does connect,and i felt so glad on reading through your awesommme blogg... and feel so amazing to come across you in here..
felt intrigued,inspired and overwhelmed in more than a number of ways..be it efforts with your soul within,to
encourage faith and connect with the world,be it the way you seem to be exploring the oneness within this duality,or be it the way you seem to enthusiastically seem to live ur truths.. :)

Em primeiro lugar, devo dizer, sincronicidade realmente se conecta, e eu me senti tão feliz ao ler seu blog maravilhoso .. e eu me sinto tão feliz por me deparar com você aqui ..
Senti-me intrigado, inspirado e dominado em inúmeros caminhos e maneiras .. seja isso pelos esforços da sua alma  para incentivar a fé e se conectar com o mundo, ou seja pelo jeito que você parece estar a explorar a unidade dentro dessa dualidade, ou seja pelo jeito que você parece com entusiasmo viver suas verdades .. :)


A Luiza já voltou do Canadá e a Juliana, se pudesse, não voltaria da Índia tão cedo...


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Varanasi, Gaya e muito mais

Olá pessoal, para compensar o tempo ausente aqui vem um post enorme!
Almocei no Subway hoje de novo, a Índia me pegou mais uma vez, 3X0 hahaha acho que nunca vou conseguir ficar uma semana inteira sem ficar doente!
Bom, na Sexta-Feira o dia começou normal, mais um dia de aula. Quando meu trabalho acabou fui pegar meu almoço na barraquinha e quando eu estava pegando pelo arroz seco  um dos meus alunos ( o da história da caneta, lembram?!?) me vê e começa a gritar: Juliana madam, Juliana madam, ele foi selecionado pro trabalho. Fiquei muito feliz por ele, não teria forma melhor de começar o fim de semana.

Almocinho de sexta, esse não me deixa doente mais. Macarrão, arroz seco e doces pela bagatela de menos de 3 reais.
Voltei pra casa, arrumei minha mochila e por volta das 7 saímos para a jornada de fim de semana.
A estação de trem é enorme e muitooo lotada, eramos 25 estrangeiros, e como sempre, a estação inteira parou para nos olhar.
Pessoas estavam por todos os cantos, dormindo em lonas esticadas no chão, esperando pelos trens e com ratos correndo por cima deles.
Depois de um tempo entramos no trem, era mais limpo do que eu imaginava, mas como estamos no inverno pensamos: não precisamos pagar mais pela classe com ar-condicionado. O que não contávamos era que as janelas não fechavam direito, então passamos pelas 12 horas mais frias das nossas vidas.

Depois da nossa experiência congelante, chegamos em Varanasi. A cidade é banhada pelo Rio Ganges e é uma das cidades mais antigas do mundo, sendo a mais sagrada para o Hinduismo.
Lá os corpos são queimados e as cinzas jogadas no Ganges e segundo o Hinduismo, quem morre lá vai direto para o céu.
Demoramos um bom tempo para achar transporte para todos até o hotel, depois mais um bom tempo achando o hotel (já que nada tem endereço aqui) comemos, e fomos dar uma volta pela cidade até as 4 da tarde quando pegaríamos o barco para navegar pelo rio.

A cidade é muito mais "Índia" que Kolkata. Vacas por todos os lugares, muitas pessoas nas ruas, muita pobreza, macacos por todos os lados e muitos turistas.
Achamos um barco para todos os 20 e poucos que eramos, 3 horas passeando pelo rio por um pouco mais do que 3 reais cada.

 

Um dos dois remadores do barco falava um pouco de Inglês e ele foi nos explicando algumas coisas durante o caminho.
Vimos o primeiro fogo, onde as castas mais baixas são queimadas, as cerimonias são rápidas e o fogo só fica aceso durante o dia. Depois fomos para o lugar onde as castas mais altas são queimadas, um senhor veio ao barco para nos explicar mais coisas ( e pedir doações depois, é claro). Lá no primeiro andar são queimados os homens das castas inferiores, no segundo das castas médias e no terceiro das castas altas, a cerimonia dura cerca de 5 horas e o fogo nunca é apagado.
Apenas homens são queimados. Mulheres, crianças, homens considerados santos ou leprosos são embrulhados em folhas de bananeira e jogados diretamente no rio.
A madeira usada é uma madeira especial para não deixar cheiro de queimado e é muito cara. Depois de lavar o corpo no Ganges, os parentes mais próximos raspam os próprios cabelo, barba e sobrancelhas e vestem roupas brancas em sinal de luto,colocam o corpo na fogueira, dão 5 voltas em volta do fogo ( representando os 5 elementos que compõe nosso corpo, água, ar, terra, fogo e alma e os libertando) e quando o fogo apaga e a fogueira esfria é sinal de que segundo as palavras do guia: " a alma agora descansa em paz no céu e os parentes devem ir descansar em paz em casa". Os restos dos ossos, então, são finalmente jogados no rio.
Já era noite, no caminho de volta ao porto paramos para ver alguma cerimonia religiosa (ninguém entendeu o que era porque o remador não conseguia explicar em Inglês). E finalmente desembarcamos e fomos para o hotel.
Uma das coisas que minha mãe fez questão que eu trouxesse para a Índia eram protetores de assento de privada. O que ela não contava era que os banheiros aqui seriam assim:



Depois de jantar e acabados pela noite fria e mal dormida fomos para cama, aproveitar as 4 horas de sono que tínhamos antes de entrar no próximo trem rumo a Gaya.
Acordamos as 3 e pegamos nosso caminho para a estação de trem. Dessa vez tínhamos comprado cobertores extras, o que tornou as próximas 5 horas de viagem apenas muito muito frias.
Dessa vez peguei o leito do corredor, e na cabine da minha frente tinha uma família de indianos, sendo indianos, claro. Com direito a muita música e conversa. Pela manhã, quando não conseguia suportar mais a barulheira, tirei o cobertor do meu rosto e lancei aquele olhar ( entendível em todas as línguas) de pelo amor de Deus, fiquem quietos. O que eu não contava era que eles estavam comendo o café da manhã deles. E como eu já disse antes, quando se trata de comida, não existe a palavra não aqui. Me empurraram o que eles estavam comendo, passando de mão em mão até chegar em mim. Eles eram legais, afinal.


Chegando em Gaya demoramos cerca de 2 horas para conseguir guardar nossas mochilas nos armários da rodoviária ( se você pensa que o serviço público do Brasil é ruim... venha para Índia) e fomos procurar Onibus para Bodh Gaya, o lugar onde Buda criou o Budismo.


Como os 25 de nós tinham trens em horários diferentes, nos dividimos em menores grupos, o que não tornou a qualidade do ambiente muito melhor, especialmente pra mim, que não sou lá grande fã de amiguinhos.
Chegamos em Bodh Gaya na hora do almoço, o lugar é lindo, cheio de templos budistas, cores, flores e monges tibetanos. Vimos o máximo que pudemos, não consegui ver os elefantes que as egípcias falaram que viram, mas vimos camelos ( embora ninguém quisesse andar neles comigo). Jantamos em um restaurante muito gostoso, tão gostoso que repetimos os pratos, resultado, doente de novo. Já ta virando rotina.


Pegamos o trem das 10 pm, que atrasou e saiu quase meia noite. Mais uma noite fria no trem, chegamos em Calcutá perto das 8 da manhã, peguei um táxi e fui direto pro trabalho.
Aproveitei o resto do dia morrendo de enjoo e dor de barriga em casa.
Do mais, a minha diretora no trabalho e a outra professora estão viajando para treinamento. Ou seja, o escritório e a sala de aula são todos meus pelas próximas 2 semanas (muahaha).
O que também significa nada de viagens nos próximos 3 feriados, já que não posso deixar o escritório. Nem ligo, talvez alguns amigos venham passar o feriado aqui e me façam companhia.
Ainda na sexta, fui buscar o top do meu Sari e vi que tinha um salão de cabeleireiro no fundo da loja.
Resolvi então que era hora de avançar com a minha capacidade de conversação em línguas desconhecidas, uma vez que já domino a arte de compras e de pegar táxis e rick-shaws. A mulher não falava inglês, mas entendia minhas mímicas e provavelmente parte do que eu estava falando. Perguntando em inglês e com ela respondendo em alguma coisa, consegui entender que para tirar a sobrancelha e o buço com linha eram 25 rúpias ( um pouco menos que 1 real), ela conseguiu entender que eu não queria que ela mudasse o formato da minha sobrancelha, só tirasse os cantos. Arriscando ainda mais minhas habilidades, perguntei se ela fazia mandi ( pintura nas mãos), entendi que ela fazia, eram 300 rúpias (10 reais) pra fazer nos dois braços e palmas da mão, que a pintura dura 8 dias e o tempo que ela demora pra fazer depende da complexidade da pintura.
Hoje precisava recarregar meu celular, o senhor não falava Inglês, e nem entedia. Mesmo assim consegui carregar meu celular na promoção especial de conversa e no pacote de torpedos.
Já sou quase uma falante nativa, falta só descobrir em que língua eles estavam falando, Hindi, Bengoli, Urdo ou seja lá o quê. De qualquer forma mímica e boa vontade ainda são línguas universais e como diria o velho ditado, quem tem boca, vai a Roma ( ou a qualquer lugar na Índia).

Alvida!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Um mês na Índia

Ontem fez um mês que eu saí do Brasil, e depois de amanhã faz um mês que eu estou na Índia ( 3 dias de viagem + fuso horário).
Não sinto falta do chuveiro quente, nem da comida limpa, nem de conseguir me movimentar em casa (chegaram mais moradores no apartamento, estamos literalmente sentindo na pele como é viver na superpopulação da Índia). Cada dia que passa parece que eu estou um pouquinho mais perto de ser absorvida por essa maravilhosa bagunça.
Uma coisa o cara de Portugal falou e é a perfeita descrição da Índia: "Você nunca vai achar duas coisas iguais na Índia". Tudo e todos são diferentes, não existem 2 sares com as mesmas cores, duas bicicletas com as mesmas fitas amarradas, dois táxis com os mesmos altares e Deuses em cima do porta-luvas, duas barraquinhas de comida com o mesmo cheiro de fritura misturado com incenso e decoradas com flores.Tudo é colorido, tem correntes de flores, tem música, tem vida. É como um filme, a trilha sonora e o movimento que nunca para.



Chegou uma russa aqui esses dias, ela é mais branca que as paredes do apartamento, e não da pra ver o cabelo dela, de tão claro. Como o pessoal da Aiesec está fora em conferencia e meu instinto maternal só me põe em furada, to levando ela pra todo lugar comigo, até eles chegarem e explicarem pra ela do projeto dela. A coisa boa é que perto dela eu sou a mais comum das indianas. Nas ruas, agora, as encaradas constrangedoras que me seguiam por minutos vão todas pra ela, assim como os vendedores nem percebem mais a minha presença e vão se aglomerar em volta dela. Tudo tem seu lado bom.
Agora que eu já entrei no clima, estou tentando descobrir mais a cidade, comer em lugares diferentes, pegar os Autos um ponto antes ou um depois do meu, e fazer compras nas feiras de rua e não mais no mercado.
Ontem eu e a canadense fomos atras de vegetais para fazer janta, andamos uns 10 minutos, encontramos uma feirinha, entramos em um corredor e dava em um barracão, com umas 10 ou 12 bancas de cereais e vegetais. O lugar é lindo,de madeira mas todo colorido devido as frutas, folhas e raízes, quando voltar lá eu tiro foto. Embora a maioria dos indianos não fale inglês, os vendedores, normalmente, entendem "quanto custa" e sabem os números para responder em inglês. Não nesse lugar.
Tive que usar todo o meu vocabulário em Hindi ( que por sorte eles entendiam, uma boa parte da população fala só Bengoli) e fazer as compras usando as únicas 6 palavras em Hindi que eu sei, "não", "um"', "dois", "quanto custa" e "senhor". Comprei 2kg de batatas por 0.60, 2 berinjelas e cheiro verde por 1.00 e 2 pacotes de pão por 0.50( centavos de real). Como eu não sei nenhum número depois do 2, eles me respondiam o preço, que eu não entendia, claro,  e eu ia mostrando as notas, até eles sorrirem. Com certeza me cobraram pelo menos 3x o valor original, mas o importante é que todo mundo saiu feliz.
Hoje fui trabalhar, finalmente a chuva parou e a classe estava cheia de novo.
Eu esqueci de contar, nos dias de chuva, todos os alunos vão para a aula de sandália. Pra que molhar o sapato, vamos molhar o pé... a cidade é super limpinha e o pé seca mais rápido mesmo! haha

É incrível como "meus meninos" estão se soltando e falando bem.
Pelo menos 1 vez na semana faço uma atividade de Marketing com eles, divido em grupos, dou fotos de produtos recortados de revistas e eles têm que vende-los para o resto da sala. Ai dá pra trabalhar argumentação, liderança, trabalho em grupo, marketing pessoal e tal, mas sem deixar de ser divertido. Um deles foi em uma entrevista de emprego antes de ontem, e na segunda parte da entrevista o gerente perguntou: "se eu te desse essa caneta, como você a venderia?" ele disse que ficou nervoso porque era a primeira entrevista da vida dele e que não foi bem, esqueceu de falar sobre " como a caneta era macia de segurar e como o fluxo de tinta era contínuo".Há 3 semanas atrás ele não conseguia nem dizer o nome e a formação. Agora ele me explica o como esqueceu de falar da maciez da caneta e de como era o fluxo de tinta... a minha vontade foi responder: " Que se f#*a o gerente e a caneta dele, olha onde você chegou em menos de um mês, homem!" Mas respeitando o protocolo, as palavras foram mais brandas.

Hoje o tópico da aula era "Índia e festivais", eles são muito patriotas aqui, mas não e aquele tipo de patriotismo: meu País é bom e o seu é ruim. É um patriotismo como tudo aqui: meu País é ótimo, seja bem vindo, fique o máximo que puder, coma comigo a minha comida  e volte sempre. Os alunos muçulmanos estavam me contando dos festivais e de que a população muçulmana vivendo na Índia é maior do que a população de todo o Paquistão. Enquanto um dos meninos estava tentando explicar algumas coisas pra mim ( o inglês dele é bem fraco ainda e ele não se sente confortável falando da religião dele) uma das novas meninas, que entrou no curso semana passada, e nunca tinha falado, levantou lá do fundo, veio me explicou do jejum dos muçulmanos, o calendário, os festivais e tudo mais. Fiquei impressionada.
O meu Inglês ta melhorando muito também, são pelo menos 4 horas por dia, ouvindo 15, 20 alunos iniciantes/intermediários com sotaque indiano bem forte. Decifrado as palavras, corrigindo a pronuncia, explicando em inglês o significado de expressões.

A russa foi comigo hoje, um dos alunos chegou "cedo" (o curso começa as 9 mas eles só chegam depois das 9:30, é como o tempo funciona aqui) e ele estava se apresentando pra ela...
Ele é pós graduado, mora na zona rural, acorda todo dia as 03:30 da manhã e pega um trem de 5 horas (lotado tipo metro de São Paulo em hora de pico) para chegar no curso e mais 5 horas pra voltar pra casa.
Enquanto eu cuidava de uns documentos do escritório ele falou para ela que Juliana Madam não tinha ideia do quanto a presença dela tinha encorajado e motivado ele e os outros alunos a continuar no curso e ter esperanças de um futuro melhor.
E ele nem imagina o quanto o presença deles na minha vida fez e está fazendo de mim uma nova pessoa.
Eu pensei que queria viajar pela Índia toda, ver templos, paisagens, palácios e tirar muitas fotos. Agora eu nem penso na possibilidade de fazer nada mais maravilhoso do que acordar todos os dias e ir trabalhar.
As fotos eu colocaria no Face Book, revelaria algumas, talvez. O que aprendo todo dia lá, vai ficar muito, muito além de "likes" e "comments" na minha rede social.



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Meu querido diário

Vamos lá, mais um post.
Antes disso queria explicar o motivo de tanto intervalo entre as postagens. A internet que estou usando (USB) é nova, e como a Índia está em constante ameaça de ataques terroristas do Paquistão, a segurança do País é bem rígida. Então até que aprovem todos os documentos que eu mandei quando comprei a internet e que provam que eu não sou terrorista, o limite da internet é limitado, não da pra postar muitas fotos, então a diversão de ler o post não é a mesma. Amanhã ou depois acho que já está confirmado que eu não quero explodir nada, então liberam meu limite.
O mesmo aconteceu quando fomos comprar chips para os celulares. E por esse motivo também, nós estrangeiros, não pudemos entrar no evento que era no campo militar ( já postei sobre isso antes) e o Canadense quase foi preso quando tentou tirar fotos dentro do metro.
Mas voltando aos fatos, nesse fim de semana a Índia me pegou de novo. Semana passada eu passei bem mal quando comi um arroz com frango e vegetais. Continuei comendo comida de rua a semana toda e estava bem.
É claro que eu evito os lugares que ficam do lado dos tubos de esgoto, e os que tem ratos em volta ( que eu vejo, pelo menos), mas exigir mais higiene do que isso é impossível.
No Sábado fui trabalhar, comprei roupas indianas ( calça e camiseta ) e agora quando ando pelas ruas e se meu cabelo está escondido no lenço ( o corte e as pontas claras chamam atenção) ao invés de ter 99% dos indianos me encarando tenho só cerca de 75% deles.
No escritório estavam tendo os testes de admissão para novos alunos, agora que mudamos de prédio temos 2 salas de aula, então eu conduzi as aulas normais com meus alunos e o resto da equipe aplicou os testes ( mesmo porque eu não falo Bengoli). Toda vez que eu passava em frente da sala de testes os aproximadamente 18 homens e 2 mulheres me seguiam com os olhos, como se eu tivesse acabado de descer de uma nave espacial vinda de Marte. E olha que eu sou bem marronzinha...
Almocei nas barraquinhas de rua, comprei algumas coisas e trouxe pra casa, comi na rua na janta de novo, voltei pra casa e disse toda orgulhosa de mim mesma: Posso comer o que quiser, não fico mais doente com a comida daqui! Supimpa, passei a noite toda no trono. E dessa vez não foi vomitando.
E assim prossegui pelo resto do Domingo. Hoje almocei no Subway. É o único lugar que conheço, até então, onde as pessoas pegam na comida com luva ( com qual frequência eles trocam de luvas ai já é outra história).  Índia 2, estrangeira estúpida 0.
Ainda no Domingo fomos em ou outro mercado de rua, o lugar é mais afastado e não é tão caótico quanto ao que estamos acostumados a ir.
Comprei meu primeiro sare e a Anna da Rússia me ajudou a vestir. Agora tenho que mandar fazer o top que vai por dentro. É de seda e custou 825 rúpias (menos de R$30,00)

O vermelho eu tinha visto no New-Market, como a loja não tinha os preços marcados o vendedor queria me cobrar 4.000 rúpias ( 130 reais).




Aqui acontece um fator no mínimo curioso na economia. A inflação e volatilidade nos preços para estrangeiros.
Pouquíssimas lojas ( principalmente nas feiras) tem o preço das mercadorias fixas, isso depende do quanto o vendedor quer vender aquele produto, o quando ele foi com a sua cara, e o quanto branco você é. Se você passar por 5 vezes em uma barraquinha e perguntar o preço da mesma coisa em todas as vezes, você vai ter pelo menos 15 preços diferentes. O preço que ele vai te falar quando você perguntar, o preço depois de barganhar e o preço que ele vai se esguelar de gritar quando você falar que é muito caro e sair andando.
 E o mesmo vai acontecer com preços diferentes na segunda vez que você perguntar.. e na terceira.. e assim por diante.
Veja um exemplo ilustrado:
Eu queria comprar lenços de seda, o preço inicial era 550 rúpias ( 20 reais) depois de muita barganha, de eu explicar que era estrangeira mas era estudante e todo o bla bla bla consegui baixar para 150 rupias ( 5 reais) utilizando todo a encenação que eu aprendi aqui, disse que não queria e sai andando, consegui os lenços por 100 rupias ( 3 reais) mas segundo o vendedor, era abaixo do preço de custo, ele ia arruinar o negócio dele e não teria dinheiro para alimentar os filhos. Chego em casa e uma das estagiárias tinha comprado os mesmos lenços por 75 rúpias ( mais uma família indiana arruinada por estrangeiros sem coração).
Nem o Gessuir consegue explicar esse fator econômico!

Eu tava bem cansada por causa da noite em claro e da tarde no mercado, fui dormir as 7 da noite.
Eu achei que eu ia amar a Índia sempre, mas confesso que hoje eu realmente desejei que tudo explodisse. ( Governo da Índia, é só brincadeirinha, viu? por favor não cancele minha internet) Acordei as 7 como todo dia e mesmo com as minhas 12 horas do sono ainda estava cansada, me arrumei, como os dias estão chuvosos e agora somos praticamente 10 pessoas em um mini-apartamento de 2 quartos, as roupas úmidas estão espalhadas por todo lado, e pelo cheiro parece que guardamos uma dúzia de cachorros molhados dentro do armário.
Saí de casa as 8:10 para encarar minha jornada de 40 minutos até o trabalho. A chuva estava forte, e mesmo com o guarda chuva me molhei toda. Como a cidade alaga quando chove demorei mais quase 20 minutos para conseguir um Auto Rick-shaw já que eles não trabalham em dias assim. Chegando na metade da minha jornada ( a outra metade é andando), descubro que além da minha TPM ter chegado, as ruas estavam alagadas e cheias de barro. Andei por mais 20 minutos com água na canela, tomando chuva, ( se eu andasse na avenida ia ser atropelada, e nas calçadas as lonas do pessoal que mora na rua ficam amarradas então não dá para andar com o guarda-chuva) e escorregando no barro.
Cheguei no trabalho na hora exata, fui a primeira a chegar, no entanto ( o pessoal do escritório e os alunos chegaram só 30 minutos depois). Embora tenha passado as próximas 4 horas na sala de aula e 2 no escritório com as botas e metade das pernas ensopadas o meu mau-humor foi embora depois dos meus primeiros 15 minutos de aula. Agora eu já amo a Índia de novo.

Aqui em baixo algumas fotos do meu caminho casa-trabalho. Igualzinho a realidade que passava no "Caminho das Índias".