Ontem fez um mês que eu saí do Brasil, e depois de amanhã faz um mês que eu estou na Índia ( 3 dias de viagem + fuso horário).
Não sinto falta do chuveiro quente, nem da comida limpa, nem de conseguir me movimentar em casa (chegaram mais moradores no apartamento, estamos literalmente sentindo na pele como é viver na superpopulação da Índia). Cada dia que passa parece que eu estou um pouquinho mais perto de ser absorvida por essa maravilhosa bagunça.
Uma coisa o cara de Portugal falou e é a perfeita descrição da Índia: "Você nunca vai achar duas coisas iguais na Índia". Tudo e todos são diferentes, não existem 2 sares com as mesmas cores, duas bicicletas com as mesmas fitas amarradas, dois táxis com os mesmos altares e Deuses em cima do porta-luvas, duas barraquinhas de comida com o mesmo cheiro de fritura misturado com incenso e decoradas com flores.Tudo é colorido, tem correntes de flores, tem música, tem vida. É como um filme, a trilha sonora e o movimento que nunca para.
Chegou uma russa aqui esses dias, ela é mais branca que as paredes do apartamento, e não da pra ver o cabelo dela, de tão claro. Como o pessoal da Aiesec está fora em conferencia e meu instinto maternal só me põe em furada, to levando ela pra todo lugar comigo, até eles chegarem e explicarem pra ela do projeto dela. A coisa boa é que perto dela eu sou a mais comum das indianas. Nas ruas, agora, as encaradas constrangedoras que me seguiam por minutos vão todas pra ela, assim como os vendedores nem percebem mais a minha presença e vão se aglomerar em volta dela. Tudo tem seu lado bom.
Agora que eu já entrei no clima, estou tentando descobrir mais a cidade, comer em lugares diferentes, pegar os Autos um ponto antes ou um depois do meu, e fazer compras nas feiras de rua e não mais no mercado.
Ontem eu e a canadense fomos atras de vegetais para fazer janta, andamos uns 10 minutos, encontramos uma feirinha, entramos em um corredor e dava em um barracão, com umas 10 ou 12 bancas de cereais e vegetais. O lugar é lindo,de madeira mas todo colorido devido as frutas, folhas e raízes, quando voltar lá eu tiro foto. Embora a maioria dos indianos não fale inglês, os vendedores, normalmente, entendem "quanto custa" e sabem os números para responder em inglês. Não nesse lugar.
Tive que usar todo o meu vocabulário em Hindi ( que por sorte eles entendiam, uma boa parte da população fala só Bengoli) e fazer as compras usando as únicas 6 palavras em Hindi que eu sei, "não", "um"', "dois", "quanto custa" e "senhor". Comprei 2kg de batatas por 0.60, 2 berinjelas e cheiro verde por 1.00 e 2 pacotes de pão por 0.50( centavos de real). Como eu não sei nenhum número depois do 2, eles me respondiam o preço, que eu não entendia, claro, e eu ia mostrando as notas, até eles sorrirem. Com certeza me cobraram pelo menos 3x o valor original, mas o importante é que todo mundo saiu feliz.
Hoje fui trabalhar, finalmente a chuva parou e a classe estava cheia de novo.
Eu esqueci de contar, nos dias de chuva, todos os alunos vão para a aula de sandália. Pra que molhar o sapato, vamos molhar o pé... a cidade é super limpinha e o pé seca mais rápido mesmo! haha
É incrível como "meus meninos" estão se soltando e falando bem.
Pelo menos 1 vez na semana faço uma atividade de Marketing com eles, divido em grupos, dou fotos de produtos recortados de revistas e eles têm que vende-los para o resto da sala. Ai dá pra trabalhar argumentação, liderança, trabalho em grupo, marketing pessoal e tal, mas sem deixar de ser divertido. Um deles foi em uma entrevista de emprego antes de ontem, e na segunda parte da entrevista o gerente perguntou: "se eu te desse essa caneta, como você a venderia?" ele disse que ficou nervoso porque era a primeira entrevista da vida dele e que não foi bem, esqueceu de falar sobre " como a caneta era macia de segurar e como o fluxo de tinta era contínuo".Há 3 semanas atrás ele não conseguia nem dizer o nome e a formação. Agora ele me explica o como esqueceu de falar da maciez da caneta e de como era o fluxo de tinta... a minha vontade foi responder: " Que se f#*a o gerente e a caneta dele, olha onde você chegou em menos de um mês, homem!" Mas respeitando o protocolo, as palavras foram mais brandas.
Hoje o tópico da aula era "Índia e festivais", eles são muito patriotas aqui, mas não e aquele tipo de patriotismo: meu País é bom e o seu é ruim. É um patriotismo como tudo aqui: meu País é ótimo, seja bem vindo, fique o máximo que puder, coma comigo a minha comida e volte sempre. Os alunos muçulmanos estavam me contando dos festivais e de que a população muçulmana vivendo na Índia é maior do que a população de todo o Paquistão. Enquanto um dos meninos estava tentando explicar algumas coisas pra mim ( o inglês dele é bem fraco ainda e ele não se sente confortável falando da religião dele) uma das novas meninas, que entrou no curso semana passada, e nunca tinha falado, levantou lá do fundo, veio me explicou do jejum dos muçulmanos, o calendário, os festivais e tudo mais. Fiquei impressionada.
O meu Inglês ta melhorando muito também, são pelo menos 4 horas por dia, ouvindo 15, 20 alunos iniciantes/intermediários com sotaque indiano bem forte. Decifrado as palavras, corrigindo a pronuncia, explicando em inglês o significado de expressões.
A russa foi comigo hoje, um dos alunos chegou "cedo" (o curso começa as 9 mas eles só chegam depois das 9:30, é como o tempo funciona aqui) e ele estava se apresentando pra ela...
Ele é pós graduado, mora na zona rural, acorda todo dia as 03:30 da manhã e pega um trem de 5 horas (lotado tipo metro de São Paulo em hora de pico) para chegar no curso e mais 5 horas pra voltar pra casa.
Enquanto eu cuidava de uns documentos do escritório ele falou para ela que Juliana Madam não tinha ideia do quanto a presença dela tinha encorajado e motivado ele e os outros alunos a continuar no curso e ter esperanças de um futuro melhor.
E ele nem imagina o quanto o presença deles na minha vida fez e está fazendo de mim uma nova pessoa.
Eu pensei que queria viajar pela Índia toda, ver templos, paisagens, palácios e tirar muitas fotos. Agora eu nem penso na possibilidade de fazer nada mais maravilhoso do que acordar todos os dias e ir trabalhar.
As fotos eu colocaria no Face Book, revelaria algumas, talvez. O que aprendo todo dia lá, vai ficar muito, muito além de "likes" e "comments" na minha rede social.
Não sinto falta do chuveiro quente, nem da comida limpa, nem de conseguir me movimentar em casa (chegaram mais moradores no apartamento, estamos literalmente sentindo na pele como é viver na superpopulação da Índia). Cada dia que passa parece que eu estou um pouquinho mais perto de ser absorvida por essa maravilhosa bagunça.
Uma coisa o cara de Portugal falou e é a perfeita descrição da Índia: "Você nunca vai achar duas coisas iguais na Índia". Tudo e todos são diferentes, não existem 2 sares com as mesmas cores, duas bicicletas com as mesmas fitas amarradas, dois táxis com os mesmos altares e Deuses em cima do porta-luvas, duas barraquinhas de comida com o mesmo cheiro de fritura misturado com incenso e decoradas com flores.Tudo é colorido, tem correntes de flores, tem música, tem vida. É como um filme, a trilha sonora e o movimento que nunca para.
Chegou uma russa aqui esses dias, ela é mais branca que as paredes do apartamento, e não da pra ver o cabelo dela, de tão claro. Como o pessoal da Aiesec está fora em conferencia e meu instinto maternal só me põe em furada, to levando ela pra todo lugar comigo, até eles chegarem e explicarem pra ela do projeto dela. A coisa boa é que perto dela eu sou a mais comum das indianas. Nas ruas, agora, as encaradas constrangedoras que me seguiam por minutos vão todas pra ela, assim como os vendedores nem percebem mais a minha presença e vão se aglomerar em volta dela. Tudo tem seu lado bom.
Agora que eu já entrei no clima, estou tentando descobrir mais a cidade, comer em lugares diferentes, pegar os Autos um ponto antes ou um depois do meu, e fazer compras nas feiras de rua e não mais no mercado.
Ontem eu e a canadense fomos atras de vegetais para fazer janta, andamos uns 10 minutos, encontramos uma feirinha, entramos em um corredor e dava em um barracão, com umas 10 ou 12 bancas de cereais e vegetais. O lugar é lindo,de madeira mas todo colorido devido as frutas, folhas e raízes, quando voltar lá eu tiro foto. Embora a maioria dos indianos não fale inglês, os vendedores, normalmente, entendem "quanto custa" e sabem os números para responder em inglês. Não nesse lugar.
Tive que usar todo o meu vocabulário em Hindi ( que por sorte eles entendiam, uma boa parte da população fala só Bengoli) e fazer as compras usando as únicas 6 palavras em Hindi que eu sei, "não", "um"', "dois", "quanto custa" e "senhor". Comprei 2kg de batatas por 0.60, 2 berinjelas e cheiro verde por 1.00 e 2 pacotes de pão por 0.50( centavos de real). Como eu não sei nenhum número depois do 2, eles me respondiam o preço, que eu não entendia, claro, e eu ia mostrando as notas, até eles sorrirem. Com certeza me cobraram pelo menos 3x o valor original, mas o importante é que todo mundo saiu feliz.
Hoje fui trabalhar, finalmente a chuva parou e a classe estava cheia de novo.
Eu esqueci de contar, nos dias de chuva, todos os alunos vão para a aula de sandália. Pra que molhar o sapato, vamos molhar o pé... a cidade é super limpinha e o pé seca mais rápido mesmo! haha
É incrível como "meus meninos" estão se soltando e falando bem.
Pelo menos 1 vez na semana faço uma atividade de Marketing com eles, divido em grupos, dou fotos de produtos recortados de revistas e eles têm que vende-los para o resto da sala. Ai dá pra trabalhar argumentação, liderança, trabalho em grupo, marketing pessoal e tal, mas sem deixar de ser divertido. Um deles foi em uma entrevista de emprego antes de ontem, e na segunda parte da entrevista o gerente perguntou: "se eu te desse essa caneta, como você a venderia?" ele disse que ficou nervoso porque era a primeira entrevista da vida dele e que não foi bem, esqueceu de falar sobre " como a caneta era macia de segurar e como o fluxo de tinta era contínuo".Há 3 semanas atrás ele não conseguia nem dizer o nome e a formação. Agora ele me explica o como esqueceu de falar da maciez da caneta e de como era o fluxo de tinta... a minha vontade foi responder: " Que se f#*a o gerente e a caneta dele, olha onde você chegou em menos de um mês, homem!" Mas respeitando o protocolo, as palavras foram mais brandas.
Hoje o tópico da aula era "Índia e festivais", eles são muito patriotas aqui, mas não e aquele tipo de patriotismo: meu País é bom e o seu é ruim. É um patriotismo como tudo aqui: meu País é ótimo, seja bem vindo, fique o máximo que puder, coma comigo a minha comida e volte sempre. Os alunos muçulmanos estavam me contando dos festivais e de que a população muçulmana vivendo na Índia é maior do que a população de todo o Paquistão. Enquanto um dos meninos estava tentando explicar algumas coisas pra mim ( o inglês dele é bem fraco ainda e ele não se sente confortável falando da religião dele) uma das novas meninas, que entrou no curso semana passada, e nunca tinha falado, levantou lá do fundo, veio me explicou do jejum dos muçulmanos, o calendário, os festivais e tudo mais. Fiquei impressionada.
O meu Inglês ta melhorando muito também, são pelo menos 4 horas por dia, ouvindo 15, 20 alunos iniciantes/intermediários com sotaque indiano bem forte. Decifrado as palavras, corrigindo a pronuncia, explicando em inglês o significado de expressões.
A russa foi comigo hoje, um dos alunos chegou "cedo" (o curso começa as 9 mas eles só chegam depois das 9:30, é como o tempo funciona aqui) e ele estava se apresentando pra ela...
Ele é pós graduado, mora na zona rural, acorda todo dia as 03:30 da manhã e pega um trem de 5 horas (lotado tipo metro de São Paulo em hora de pico) para chegar no curso e mais 5 horas pra voltar pra casa.
Enquanto eu cuidava de uns documentos do escritório ele falou para ela que Juliana Madam não tinha ideia do quanto a presença dela tinha encorajado e motivado ele e os outros alunos a continuar no curso e ter esperanças de um futuro melhor.
E ele nem imagina o quanto o presença deles na minha vida fez e está fazendo de mim uma nova pessoa.
Eu pensei que queria viajar pela Índia toda, ver templos, paisagens, palácios e tirar muitas fotos. Agora eu nem penso na possibilidade de fazer nada mais maravilhoso do que acordar todos os dias e ir trabalhar.
As fotos eu colocaria no Face Book, revelaria algumas, talvez. O que aprendo todo dia lá, vai ficar muito, muito além de "likes" e "comments" na minha rede social.
Muito bom, amor! :D
ResponderExcluirEsse ano começou muito bem para nós! Continue aproveitando para crescer aí!