quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Um mês na Índia

Ontem fez um mês que eu saí do Brasil, e depois de amanhã faz um mês que eu estou na Índia ( 3 dias de viagem + fuso horário).
Não sinto falta do chuveiro quente, nem da comida limpa, nem de conseguir me movimentar em casa (chegaram mais moradores no apartamento, estamos literalmente sentindo na pele como é viver na superpopulação da Índia). Cada dia que passa parece que eu estou um pouquinho mais perto de ser absorvida por essa maravilhosa bagunça.
Uma coisa o cara de Portugal falou e é a perfeita descrição da Índia: "Você nunca vai achar duas coisas iguais na Índia". Tudo e todos são diferentes, não existem 2 sares com as mesmas cores, duas bicicletas com as mesmas fitas amarradas, dois táxis com os mesmos altares e Deuses em cima do porta-luvas, duas barraquinhas de comida com o mesmo cheiro de fritura misturado com incenso e decoradas com flores.Tudo é colorido, tem correntes de flores, tem música, tem vida. É como um filme, a trilha sonora e o movimento que nunca para.



Chegou uma russa aqui esses dias, ela é mais branca que as paredes do apartamento, e não da pra ver o cabelo dela, de tão claro. Como o pessoal da Aiesec está fora em conferencia e meu instinto maternal só me põe em furada, to levando ela pra todo lugar comigo, até eles chegarem e explicarem pra ela do projeto dela. A coisa boa é que perto dela eu sou a mais comum das indianas. Nas ruas, agora, as encaradas constrangedoras que me seguiam por minutos vão todas pra ela, assim como os vendedores nem percebem mais a minha presença e vão se aglomerar em volta dela. Tudo tem seu lado bom.
Agora que eu já entrei no clima, estou tentando descobrir mais a cidade, comer em lugares diferentes, pegar os Autos um ponto antes ou um depois do meu, e fazer compras nas feiras de rua e não mais no mercado.
Ontem eu e a canadense fomos atras de vegetais para fazer janta, andamos uns 10 minutos, encontramos uma feirinha, entramos em um corredor e dava em um barracão, com umas 10 ou 12 bancas de cereais e vegetais. O lugar é lindo,de madeira mas todo colorido devido as frutas, folhas e raízes, quando voltar lá eu tiro foto. Embora a maioria dos indianos não fale inglês, os vendedores, normalmente, entendem "quanto custa" e sabem os números para responder em inglês. Não nesse lugar.
Tive que usar todo o meu vocabulário em Hindi ( que por sorte eles entendiam, uma boa parte da população fala só Bengoli) e fazer as compras usando as únicas 6 palavras em Hindi que eu sei, "não", "um"', "dois", "quanto custa" e "senhor". Comprei 2kg de batatas por 0.60, 2 berinjelas e cheiro verde por 1.00 e 2 pacotes de pão por 0.50( centavos de real). Como eu não sei nenhum número depois do 2, eles me respondiam o preço, que eu não entendia, claro,  e eu ia mostrando as notas, até eles sorrirem. Com certeza me cobraram pelo menos 3x o valor original, mas o importante é que todo mundo saiu feliz.
Hoje fui trabalhar, finalmente a chuva parou e a classe estava cheia de novo.
Eu esqueci de contar, nos dias de chuva, todos os alunos vão para a aula de sandália. Pra que molhar o sapato, vamos molhar o pé... a cidade é super limpinha e o pé seca mais rápido mesmo! haha

É incrível como "meus meninos" estão se soltando e falando bem.
Pelo menos 1 vez na semana faço uma atividade de Marketing com eles, divido em grupos, dou fotos de produtos recortados de revistas e eles têm que vende-los para o resto da sala. Ai dá pra trabalhar argumentação, liderança, trabalho em grupo, marketing pessoal e tal, mas sem deixar de ser divertido. Um deles foi em uma entrevista de emprego antes de ontem, e na segunda parte da entrevista o gerente perguntou: "se eu te desse essa caneta, como você a venderia?" ele disse que ficou nervoso porque era a primeira entrevista da vida dele e que não foi bem, esqueceu de falar sobre " como a caneta era macia de segurar e como o fluxo de tinta era contínuo".Há 3 semanas atrás ele não conseguia nem dizer o nome e a formação. Agora ele me explica o como esqueceu de falar da maciez da caneta e de como era o fluxo de tinta... a minha vontade foi responder: " Que se f#*a o gerente e a caneta dele, olha onde você chegou em menos de um mês, homem!" Mas respeitando o protocolo, as palavras foram mais brandas.

Hoje o tópico da aula era "Índia e festivais", eles são muito patriotas aqui, mas não e aquele tipo de patriotismo: meu País é bom e o seu é ruim. É um patriotismo como tudo aqui: meu País é ótimo, seja bem vindo, fique o máximo que puder, coma comigo a minha comida  e volte sempre. Os alunos muçulmanos estavam me contando dos festivais e de que a população muçulmana vivendo na Índia é maior do que a população de todo o Paquistão. Enquanto um dos meninos estava tentando explicar algumas coisas pra mim ( o inglês dele é bem fraco ainda e ele não se sente confortável falando da religião dele) uma das novas meninas, que entrou no curso semana passada, e nunca tinha falado, levantou lá do fundo, veio me explicou do jejum dos muçulmanos, o calendário, os festivais e tudo mais. Fiquei impressionada.
O meu Inglês ta melhorando muito também, são pelo menos 4 horas por dia, ouvindo 15, 20 alunos iniciantes/intermediários com sotaque indiano bem forte. Decifrado as palavras, corrigindo a pronuncia, explicando em inglês o significado de expressões.

A russa foi comigo hoje, um dos alunos chegou "cedo" (o curso começa as 9 mas eles só chegam depois das 9:30, é como o tempo funciona aqui) e ele estava se apresentando pra ela...
Ele é pós graduado, mora na zona rural, acorda todo dia as 03:30 da manhã e pega um trem de 5 horas (lotado tipo metro de São Paulo em hora de pico) para chegar no curso e mais 5 horas pra voltar pra casa.
Enquanto eu cuidava de uns documentos do escritório ele falou para ela que Juliana Madam não tinha ideia do quanto a presença dela tinha encorajado e motivado ele e os outros alunos a continuar no curso e ter esperanças de um futuro melhor.
E ele nem imagina o quanto o presença deles na minha vida fez e está fazendo de mim uma nova pessoa.
Eu pensei que queria viajar pela Índia toda, ver templos, paisagens, palácios e tirar muitas fotos. Agora eu nem penso na possibilidade de fazer nada mais maravilhoso do que acordar todos os dias e ir trabalhar.
As fotos eu colocaria no Face Book, revelaria algumas, talvez. O que aprendo todo dia lá, vai ficar muito, muito além de "likes" e "comments" na minha rede social.



Um comentário:

  1. Muito bom, amor! :D
    Esse ano começou muito bem para nós! Continue aproveitando para crescer aí!

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