sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Casamento indiano e um desabafo.

Antes de começar o post queria fazer um desabafo. Vi um monte de gente que tá aqui na índia reclamando do pais, do lugar, do trabalho.
A primeira coisa que nos torna seres racionais é a capacidade de tomar decisões. Mas a principal coisa que nos torna homens e mulheres é a capacidade tomar decisões, ser responsável por elas e arcar com as consequências. Reclamar das próprias escolhas é a forma mais estúpida de admitir imaturidade e ignorância perante a vida.
Se você escolhe sair do conforto da sua casa, gastar dinheiro, e fazer alguma coisa diferente, a primeira coisa (inteligente) a ser feita é pesquisar sobre o lugar, e ponderar as escolhas. A partir do momento que nos submetemos a uma situação como essa, onde todos estão aqui por vontade própria, por que inventar tantas desculpas e problemas para não aproveitar esse precioso momento?
Fazer trabalho voluntário na Índia soa quase melódico. Por mais utópico que isso pareça, eu não vim aqui para poder contar aos meus amigos que vi os lugares que passaram na novela “Caminhos da Índia”. No Brasil as pessoas também precisam de ajuda, eu tenho certeza que se eu tivesse doado o valor da minha passagem para uma instituição de caridade eu teria ajudado muito mais do que o que eu estou fazendo aqui. Eu vim aqui porque eu quero ser uma pessoa melhor, eu quero entender diversidade, eu quero descobrir meus limites, eu quero ver do quanto eu sou capaz. E então, voltar ao Brasil, voltar a fazer o bem ao próximo e me doar de uma maneira que eu só vou conseguir depois de passar por aqui.
Infelizmente, o amadurecimento e a doação ao próximo de alguns aqui tem passagem comprada de vinda e de volta. E mesmo assim, parece que nesses 2 ou 3 meses eles estão sendo obrigados a estar aqui.
A comida aqui é sim muito apimentada, estou com fome desde que cheguei. A cidade é suja, o cheiro é péssimo, o transito e o barulho insuportável. Uma casa onde caberiam 7 pessoas está suportando 11, a geladeira não funciona, está muito frio e não temos cobertores nem agua quente nos chuveiros. Eu estou aqui porque foi minha escolha, posso voltar na hora que quiser, é assim que funciona. Minhas escolhas, e como eu me orgulho de dizer que em momento nenhum, me arrependo delas.
(vista da sacada de casa)
Voltando as nossas histórias.
A aula na quarta foi ótima. Estou conversando mais com a diretora, ela apoia meu método de ensino, e a professora está me deixando muito mais tempo sozinha com eles. Embora eu tenha que fazer algumas atividades que não goste ( nem eles) como os ditados, agora estou colocando eles para ditar pra eles mesmos. Estão adorando, até brigam para ver quem vai falar. No caminho de ida vi alguns cachorros mortos e corvos comendo pedaços dos ratos amassados pelos carros na rua, bem chocante.
Na quarta a noite ficamos sabendo que ontem teríamos um casamento indiano para ir. Sai da aula, voltei para casa e fui com o português para o New Market procurar roupas para a festa. Não tínhamos muito tempo, procuramos um pouco, achamos alguma coisa e voltamos para a casa.





O casamento era do filho de um governador do Estado, na verdade fomos á recepção depois do casamento ( que tinha sido no dia anterior) e eles eram mulçumanos então a festa não era tipicamente Indiana. Tinham mais de 3 mil pessoas, e a festa foi em um dos hotéis da família, um lugar enorme, com lagos e muita, muita comida. Chegamos lá, fomos apresentados para todas as pessoas possíveis, comemos e voltamos para casa.
Embora eu estivesse muito empolgada para ir ao casamento, uma coisa que aconteceu antes acabou com a minha noite. Fomos avisados para comprar flores para levar na cerimonia, compramos algumas rosas e fomos de taxi até o lugar onde o diretor da escola de alguns estagiários nos buscaria para irmos pro evento ( ele que nos convidou). O lugar era uma dos bairros pobres, fomos para lá de taxi e enquanto esperávamos pensamos que talvez as rosas não seriam apropriadas e que iriamos comprar um arranjo então decidimos dar as rosas para as crianças na rua.
Como sempre, todos estavam olhando para nós, eles não estão acostumados com estrangeiros. As crianças ficaram envergonhadas e não quiseram as flores. Perto de nós tinham um homem sentado na calçada, de cócoras, como eles sentam aqui. Ele estava lá sentado, quase sem roupa, olhando para o nada, com a expressão de paz que só os indianos têm, a noite estava fria e a calçada molhada. Falei que podíamos dar as flores a ele, oferecemos, ele não entendeu, não sabia se aceitava ou não, no fim pegou as flores. Sem nenhuma palavra, durante os 15 ou 20 minutos que ficamos lá esperando pelo carro ele olhava para as flores, sorria e as cheirava, colocando delicadamente no colo, e depois as alisava e sorria de novo, e assim por todo o tempo que ficamos lá. O resto dos estagiários estava conversando e tirando fotos, nem perceberam. Mas desde ontem não consigo tirar a lembrança da minha cabeça.
Acordei cedo hoje para preparar minha aula, a aula foi legal, os alunos estão se soltando cada vez mais. Voltei para casa, estava com sono atrasado (por causa do casamento) e doente. Queria dormir mais chegou um casal russo para o estágio profissional e o pessoal da AIESEC esta viajando em conferencia. Aqui em casa não cabe mais nem uma formiga, e não sabíamos eu eles estavam vindo, então todo mundo estava “puto da vida”. Eu fiquei com dó e fui leva-los para comer, comprar coisas no mercado e tudo mais. E ainda tive que ouvir o comentário deles de que eles queriam fazer o estágio voluntário também, mas na Europa, por que os indianos são muito pobres e sujos.
Fomos convidados pra mais dois eventos hoje, metade do pessoal já foi, os russos estão dormindo e a outra metade vai daqui a pouco. Estou doente e casada, por hoje fico aqui!

Beijos

2 comentários:

  1. Te amo e tenho cada vez mais orgulho de vc! Quero que me ensine a ser e pensar grande assim! =)

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