Antes de começar o post queria fazer um desabafo. Vi um
monte de gente que tá aqui na índia reclamando do pais, do lugar, do trabalho.
A primeira coisa que nos torna seres racionais é a
capacidade de tomar decisões. Mas a principal coisa que nos torna homens e
mulheres é a capacidade tomar decisões, ser responsável por elas e arcar com as
consequências. Reclamar das próprias escolhas é a forma mais estúpida de
admitir imaturidade e ignorância perante a vida.
Se você escolhe sair do conforto da sua casa, gastar
dinheiro, e fazer alguma coisa diferente, a primeira coisa (inteligente) a ser
feita é pesquisar sobre o lugar, e ponderar as escolhas. A partir do momento
que nos submetemos a uma situação como essa, onde todos estão aqui por vontade
própria, por que inventar tantas desculpas e problemas para não aproveitar esse
precioso momento?
Fazer trabalho voluntário na Índia soa quase melódico. Por
mais utópico que isso pareça, eu não vim aqui para poder contar aos meus amigos
que vi os lugares que passaram na novela “Caminhos da Índia”. No Brasil as
pessoas também precisam de ajuda, eu tenho certeza que se eu tivesse doado o
valor da minha passagem para uma instituição de caridade eu teria ajudado muito
mais do que o que eu estou fazendo aqui. Eu vim aqui porque eu quero ser uma
pessoa melhor, eu quero entender diversidade, eu quero descobrir meus limites,
eu quero ver do quanto eu sou capaz. E então, voltar ao Brasil, voltar a fazer
o bem ao próximo e me doar de uma maneira que eu só vou conseguir depois de
passar por aqui.
Infelizmente, o amadurecimento e a doação ao próximo de
alguns aqui tem passagem comprada de vinda e de volta. E mesmo assim, parece
que nesses 2 ou 3 meses eles estão sendo obrigados a estar aqui.
A comida aqui é sim muito apimentada, estou com fome desde
que cheguei. A cidade é suja, o cheiro é péssimo, o transito e o barulho
insuportável. Uma casa onde caberiam 7 pessoas está suportando 11, a geladeira não
funciona, está muito frio e não temos cobertores nem agua quente nos chuveiros.
Eu estou aqui porque foi minha escolha, posso voltar na hora que quiser, é
assim que funciona. Minhas escolhas, e como eu me orgulho de dizer que em
momento nenhum, me arrependo delas.
(vista da sacada de casa)
Voltando as nossas histórias.
A aula na quarta foi ótima. Estou conversando mais com a
diretora, ela apoia meu método de ensino, e a professora está me deixando muito
mais tempo sozinha com eles. Embora eu tenha que fazer algumas atividades que não
goste ( nem eles) como os ditados, agora estou colocando eles para ditar pra
eles mesmos. Estão adorando, até brigam para ver quem vai falar. No caminho de
ida vi alguns cachorros mortos e corvos comendo pedaços dos ratos amassados
pelos carros na rua, bem chocante.
Na quarta a noite ficamos sabendo que ontem teríamos um
casamento indiano para ir. Sai da aula, voltei para casa e fui com o português para
o New Market procurar roupas para a festa. Não tínhamos muito tempo, procuramos
um pouco, achamos alguma coisa e voltamos para a casa.
O casamento era do filho de um governador do Estado, na
verdade fomos á recepção depois do casamento ( que tinha sido no dia anterior)
e eles eram mulçumanos então a festa não era tipicamente Indiana. Tinham mais
de 3 mil pessoas, e a festa foi em um dos hotéis da família, um lugar enorme,
com lagos e muita, muita comida. Chegamos lá, fomos apresentados para todas as
pessoas possíveis, comemos e voltamos para casa.
Embora eu estivesse muito empolgada para ir ao casamento,
uma coisa que aconteceu antes acabou com a minha noite. Fomos avisados para
comprar flores para levar na cerimonia, compramos algumas rosas e fomos de taxi
até o lugar onde o diretor da escola de alguns estagiários nos buscaria para
irmos pro evento ( ele que nos convidou). O lugar era uma dos bairros pobres,
fomos para lá de taxi e enquanto esperávamos pensamos que talvez as rosas não seriam
apropriadas e que iriamos comprar um arranjo então decidimos dar as rosas para
as crianças na rua.
Como sempre, todos estavam olhando para nós, eles não estão acostumados
com estrangeiros. As crianças ficaram envergonhadas e não quiseram as flores.
Perto de nós tinham um homem sentado na calçada, de cócoras, como eles sentam
aqui. Ele estava lá sentado, quase sem roupa, olhando para o nada, com a expressão
de paz que só os indianos têm, a noite estava fria e a calçada molhada. Falei
que podíamos dar as flores a ele, oferecemos, ele não entendeu, não sabia se
aceitava ou não, no fim pegou as flores. Sem nenhuma palavra, durante os 15 ou
20 minutos que ficamos lá esperando pelo carro ele olhava para as flores,
sorria e as cheirava, colocando delicadamente no colo, e depois as alisava e
sorria de novo, e assim por todo o tempo que ficamos lá. O resto dos
estagiários estava conversando e tirando fotos, nem perceberam. Mas desde ontem
não consigo tirar a lembrança da minha cabeça.
Acordei cedo hoje para preparar minha aula, a aula foi
legal, os alunos estão se soltando cada vez mais. Voltei para casa, estava com
sono atrasado (por causa do casamento) e doente. Queria dormir mais chegou um
casal russo para o estágio profissional e o pessoal da AIESEC esta viajando em
conferencia. Aqui em casa não cabe mais nem uma formiga, e não sabíamos eu eles
estavam vindo, então todo mundo estava “puto da vida”. Eu fiquei com dó e fui
leva-los para comer, comprar coisas no mercado e tudo mais. E ainda tive que
ouvir o comentário deles de que eles queriam fazer o estágio voluntário também,
mas na Europa, por que os indianos são muito pobres e sujos.
Fomos convidados pra mais dois eventos hoje, metade do
pessoal já foi, os russos estão dormindo e a outra metade vai daqui a pouco. Estou
doente e casada, por hoje fico aqui!
Beijos
Ju estou adorando o blog!beijos Jac
ResponderExcluirTe amo e tenho cada vez mais orgulho de vc! Quero que me ensine a ser e pensar grande assim! =)
ResponderExcluir