Hoje é segunda-feira, e enfim consegui escrever sobre tudo
que se passo aqui. São tantas coisas acontecendo que não quero perder nenhum
detalhe.
Acordei por volta das 7 da manhã, sou a primeira a acordar
na casa, o meu trabalho é o que começa mais cedo. Não tomei banho porque está
muito frio e não temos agua quente. O Eduardo que está aqui é americano mas
mora em Portugal, ele tinha comprado cereal e pela primeira vez desde que
cheguei aqui comi alguma coisa sem pimenta.
Sai para trabalhar, tenho que andar cerca de 20 minutos,
então eu pego um Auto rick-shaw e depois ando por mais 15 minutos no lugar em
que acaba a rota. As únicas coisas que sei falar em Hindi são Hazara ( que é a
estação que eu ir) Baligan je phadi ( que é a estação que eu tenho que voltar)
e Gurusaid Road que é a rua principal perto do apartamento. De resto não
entendo nada do que os motoristas falam ou perguntam, passo o tempo todo
respondendo com o endereço que quero ir seguido de “ eu só falo inglês” até agora tem funcionado, um dia, quem sabe,
eu entenda o resto.
Os indianos não estão acostumados a ver estrangeiros aqui,
por onde vou, principalmente quando estou sozinhas, eles ficar olhando sem
parar. Aqui eles não tentam puxar assunto e os olhares não me incomodam, ao
contrario dos outros estagiários eu adoro sair do apartamento e ir andar e ver
o que acontece nas ruas. Em restaurantes, na casa dos indianos, na portaria do prédio
ou mesmo no lugar onde eu trabalho existem os serventes, as pessoas das castas
que fazem os serviços de limpeza e servem aos indianos das castas superiores ao contrario do que acontece aqui eu sempre
peço por coisas usando por favor e obrigada e dou bom dia, oi e tchau, e eles
sorriem para mim o tempo todo. Hoje durante o trabalho o Dipak (servente do escritório)
me levou chá com leite 2 vezes, mesmo sem eu ter pedido e também uma garrafa de
água. Quando eu fui levar as xicaras e a garrafa de volta para a cozinha eles
ficou desesperado e tirou da minha mão, dizendo alguma coisa como “ não, não, não senhora” ( ele não fala quase nada em inglês),
a diretora falou que eu não precisava fazer isso, eu respondi dizendo
educadamente que independentemente do que ela falasse eu iria fazer, sorri e
continuei andando.
A aula foi legal, meus recursos ainda são limitados porque não
tenho internet e eles não tem material didático lá, mas em menos de uma semana
eu já vejo os alunos progredindo. Agora que estou acostumando com o estereótipo
indiano fica mais fácil de lembrar os nomes
e as personalidades deles.
A professora Indiana, claramente tem outra metodologia de
ensino, como eu já disse anteriormente. São gritos, humilhação ( como a bronca
que ela deu em um dos meninos hoje por ele não estar de sapatos fechados. Ela
perguntou se ele tinha sapatos, ele falou que sim, mas com toda certeza, se ele
os tivesse ele não estaria de sandálias, pelo menos não com o frio que estava
hoje) e repetições.
Eu não concordo, e não faço questão nenhuma de esconder, a
classe está uma bagunça com as cadeiras em circulo, eles não levantam mais para
responder as questões eu vou até a cadeira deles e abaixo para manter contato
visual e eu pedi que não me chamassem de senhora. Porém, os mesmo alunos que há
5 dias atrás não conseguiam responder perguntas como “qual é seu nome e de onde
você veio” agora brigam entre si para ver quem vai me responder primeiro quando
pergunto sobre política, economia, ou qual é o objetivo deles para o futuro. O inglês
pode não ser o mais claro e fluente do mundo, mas com ajuda dos colegas que
sabem um pouco mais ou tem uma melhor pronuncia eu sempre entendo.
Hoje, antes de a aula começar, os 2 alunos que falam melhor
vieram me perguntar como eu ensino no Brasil, se eu também uso a mesma
metodologia que a professora deles, eu falei que não que eu não acho que repetição
é uma boa forma de aprendizado, que na minha opinião eles deveriam responder o
que tinham entendido dos textos e não
decora-los para repetir (como a professora exige). Eles disseram que pensavam o
mesmo, e como eu sabia que ela estava do lado de fora da sala e provavelmente
ouvindo eu falei para eles que eles deveriam perguntar isso a ela e pedir que
ela explicasse o porquê da metodologia dela e eles expusessem a opinião deles.
Eles perguntaram e provavelmente foi a primeira vez que ela
foi questionada por um aluno. Ela explicou o porque usa repetição ( que foi
assim que ela aprendeu na escola há décadas atrás etc etc). Coincidência ou
não, não tivemos mais repetição por hoje.
Eu fico bastante tempo sozinha com eles na sala, mas algumas
vezes a professora volta para a sala para fazer as atividades dela, embora ela
não pareça muito feliz com a minha presença, ela também não está pedindo para
eles levantarem mais e os gritos e repetições parecem estar diminuindo, hoje
ela até mesmo aplaudiu alguns deles depois que eles falavam. Eu não gosto de
julgar culturas, eu sei que todas as escolas (seja para crianças ou para
adultos como a minha) trabalham desse forma, mas respeitosamente eu estou
mostrando uma outra possibilidade. Se ela realmente entender como essa forma de
motivação e ensino pode ajudar (não só ela, mas os 4 ou 5 alunos na sala que
são professores também), ótimo, se ela só estiver fazendo isso enquanto eu
estou aqui para não batermos de frente vai ser triste, mas eu quero fazer de
tudo para que, pelo menos, esses meninos/homens que eu conheci, tenham um
futuro melhor.
Eu falei para eles semana passada que quando eles tivessem
se apresentando em entrevistas de emprego eles deveriam dizer no que eles eram
bons. No começo eles não conseguiam dizer nada, diziam apenas o nome, da onde
tinham vindo e o nome da escola que estudaram. Depois de muito aperta-los, hoje
eu tive homens ficando de pé, sem tremer, sem gaguejar e falando não mais que
eles não sabiam falar inglês e sim que eles
eram formados e direito, bons com matemática, especialistas em computação,
capitães dos times de críquete .
Hoje um novo aluno entrou no curso, ele não estava apavorado
igual aos outros quando cheguei aqui, ele saiu da aula sorrindo e conseguiu
entender quando eu perguntei e ele tinha gostado da aula, a resposta foi um sim
( na verdade eles falam tão baixo que eu não consegui ouvir, mas o sorriso dele
não deixou dúvidas). Mais um dos meninos contou que teve que parar a faculdade por
não ter dinheiro. Não existe contato físico entre homens e mulheres aqui, mas
todo dia eu tenho vontade de abraça-los e dizer que tudo vai ser melhor um dia,
na verdade eu gostaria de ter certeza que essas pessoas tão especiais que já
mudaram minha vida, vão um dia, ter um futuro melhor...
Nem preciso dizer o quanto eu me orgulho de você, né? Vc é especial e eu me sinto feliz de ter alguém assim ao meu lado! Te amo!
ResponderExcluirPé sujoooooo!
ResponderExcluirLi todo seu blog...vou acompanhar sempre agora.
Tb tenho orgilho de vc..
Vc é linda!
Bjsssss
Parabéns pelo belo trabalho que esta fazendo aí! Abraços Andrea
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