terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Fim de semana e introdução a realidade.


No sábado acordei e fui trabalhar sozinha, já estou ficando boa em achar os caminhos nessa cidade enorme. Mais uma vez meus alunos me esperavam com sorrisos para iluminar meu dia, no sábado não são todos que vão a aula, a sala tinha em torno de 15 deles.
A professora Indiana me deixou varias vezes sozinha com a classe, e em uma dessas horas 2 dos alunos pediram pra falar e disseram gaguejando com um inglês carregado de sotaque e algumas palavras em Bengoli (os colegas ajudavam a traduzir) “ muito obrigada senhora Juliana por ter vindo aqui e nos ajudar a construir nosso futuro”. Com os olhos cheios de lagrima, continuei a minha aula.
A professora fez alguma das atividades de repetição e ditado dela e no fim da aula, enquanto saímos um dos alunos que consegue falar melhor puxou um colega e veio me falar Obrigada em português, dizendo que pela primeira vez eles estavam se sentindo confortáveis em falar inglês e que não tinham medo de errar comigo.
Com meu dia realizado, mais uma vez, voltei para casa e por volta das 5 fomos para o hotel da festa, nos preparar para o trabalho. Nos trocamos e fomos para os nossos postos, meninos na recepção e meninas entregando um shot de vodca e um pedaço de Chille, os convidados tinham que morder a pimenta e virar a vodca. Muito poucos aceitavam a bebida, alguns perguntavam se éramos russas, mas tinha um segurança para não deixar ninguém conversar conosco.
Quatro horas depois, muito cansados e com 3 mil rúpias no bolso voltamos para casa. Alguns ficaram na festa mas a última coisa que quero fazer aqui é ficar até tarde fora de casa e estragar meus dias que tem sido tão maravilhosos.
No domingo, acordamos por volta das 8 e fomos ver a apresentação de final de ano de um projeto parceiro da Aiesec. São escolas para meninos e meninas desprivilegiados que ensinam cultura, musica, dança, teatro, entre outros além das meterias normalmente aprendidas na escola.




Eram mais de 100 crianças, alguns muito novos, mas é difícil de dizer a idade, a desnutrição das crianças pobres aqui faz com que crianças de 8, 9 anos pareçam ter 4 ou 5. O dia estava muito frio, eles vestiam shorts ou saias, alguns com casaco e a maioria com sandálias. Enquanto assistimos as apresentações eles permaneceram sentados no gramado, enfileirados e quietos.
Por onde íamos as crianças nos olhavam, vinham perto, queriam conversar, mesmo não falando inglês. Tiramos algumas fotos, eu já tinha ouvido falar e agora tenho certeza, os olhares das crianças indianas são incríveis.  
Depois disso comemos com as autoridades, o bairro onde estávamos é bem mais pobre que o nosso, as casas muito simples, as pessoas descalças no frio entre ratos e porcos pelas ruas. 



Fomos ao New Market (bairro para se fazer compras, parecido com a 25 de março) comprei algumas roupas, bijuterias e lembranças.  Eles tentam cobrar 10, 20 vezes mais do que o valor real por sermos estrangeiros, mas a Rose (da Nova Zelândia) estava conosco e ela é originalmente da Índia e consegue falar alguma coisa em Hindi então conseguimos preços bons.
Embora tenha sido uma tarde legal eu não voltei feliz para casa, a realidade que vimos no mercado me deixou muito chocada, saber que eu não posso fazer nada por aquelas pessoas me traz um sentimento tão ruim que não sei como explicar. Enquanto comprávamos, passávamos pelos “underpeople” como eles chamam aqui, ou a classe dos intocáveis, eles não podem falar com os indianos, mas falam conosco estrangeiros a procura de dinheiro. As crianças, praticamente sem roupas, vivendo entre cachorros sarnentos e latas de lixo vinham até nós para pedir comida, e se ajoelhavam e tocavam nossos pés como sinal de respeito. Fomos orientados a não dar nada a eles, primeiro por que o sistema social não permite e segundo por que são muitos, se dermos para um ou dois todos os outros vão vir atrás de nós. Eu estava desesperada e peguei as bolachas que tinha na bolsa para dar a uma das crianças, mas quando vi o “dono” ou adulto que os obriga a fazer isso estava esperando alguns metros de distancia e preferi seguir as instruções, então continuei andando.
Voltamos para casa, estava cansada e me sentindo um pouco doente, esta muito frio aqui, fui dormir cedo.

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