No sábado acordei e fui trabalhar sozinha, já estou ficando
boa em achar os caminhos nessa cidade enorme. Mais uma vez meus alunos me
esperavam com sorrisos para iluminar meu dia, no sábado não são todos que vão a
aula, a sala tinha em torno de 15 deles.
A professora Indiana me deixou varias vezes sozinha com a
classe, e em uma dessas horas 2 dos alunos pediram pra falar e disseram
gaguejando com um inglês carregado de sotaque e algumas palavras em Bengoli (os
colegas ajudavam a traduzir) “ muito obrigada senhora Juliana por ter vindo
aqui e nos ajudar a construir nosso futuro”. Com os olhos cheios de lagrima,
continuei a minha aula.
A professora fez alguma das atividades de repetição e ditado
dela e no fim da aula, enquanto saímos um dos alunos que consegue falar melhor
puxou um colega e veio me falar Obrigada em português, dizendo que pela
primeira vez eles estavam se sentindo confortáveis em falar inglês e que não
tinham medo de errar comigo.
Com meu dia realizado, mais uma vez, voltei para casa e por
volta das 5 fomos para o hotel da festa, nos preparar para o trabalho. Nos
trocamos e fomos para os nossos postos, meninos na recepção e meninas
entregando um shot de vodca e um pedaço de Chille, os convidados tinham que
morder a pimenta e virar a vodca. Muito poucos aceitavam a bebida, alguns
perguntavam se éramos russas, mas tinha um segurança para não deixar ninguém conversar
conosco.
Quatro horas depois, muito cansados e com 3 mil rúpias no
bolso voltamos para casa. Alguns ficaram na festa mas a última coisa que quero
fazer aqui é ficar até tarde fora de casa e estragar meus dias que tem sido tão
maravilhosos.
No domingo, acordamos por volta das 8 e fomos ver a apresentação
de final de ano de um projeto parceiro da Aiesec. São escolas para meninos e
meninas desprivilegiados que ensinam cultura, musica, dança, teatro, entre
outros além das meterias normalmente aprendidas na escola.
Eram mais de 100 crianças, alguns muito novos, mas é difícil
de dizer a idade, a desnutrição das crianças pobres aqui faz com que crianças
de 8, 9 anos pareçam ter 4 ou 5. O dia estava muito frio, eles vestiam shorts
ou saias, alguns com casaco e a maioria com sandálias. Enquanto assistimos as apresentações
eles permaneceram sentados no gramado, enfileirados e quietos.
Por onde íamos as crianças nos olhavam, vinham perto,
queriam conversar, mesmo não falando inglês. Tiramos algumas fotos, eu já tinha
ouvido falar e agora tenho certeza, os olhares das crianças indianas são incríveis.
Depois disso comemos com as autoridades, o bairro onde estávamos
é bem mais pobre que o nosso, as casas muito simples, as pessoas descalças no
frio entre ratos e porcos pelas ruas.
Fomos ao New Market (bairro para se fazer
compras, parecido com a 25 de março) comprei algumas roupas, bijuterias e
lembranças. Eles tentam cobrar 10, 20
vezes mais do que o valor real por sermos estrangeiros, mas a Rose (da Nova Zelândia)
estava conosco e ela é originalmente da Índia e consegue falar alguma coisa em
Hindi então conseguimos preços bons.
Embora tenha sido uma tarde legal eu não voltei feliz para
casa, a realidade que vimos no mercado me deixou muito chocada, saber que eu
não posso fazer nada por aquelas pessoas me traz um sentimento tão ruim que não
sei como explicar. Enquanto comprávamos, passávamos pelos “underpeople” como
eles chamam aqui, ou a classe dos intocáveis, eles não podem falar com os
indianos, mas falam conosco estrangeiros a procura de dinheiro. As crianças,
praticamente sem roupas, vivendo entre cachorros sarnentos e latas de lixo
vinham até nós para pedir comida, e se ajoelhavam e tocavam nossos pés como
sinal de respeito. Fomos orientados a não dar nada a eles, primeiro por que o
sistema social não permite e segundo por que são muitos, se dermos para um ou
dois todos os outros vão vir atrás de nós. Eu estava desesperada e peguei as
bolachas que tinha na bolsa para dar a uma das crianças, mas quando vi o “dono”
ou adulto que os obriga a fazer isso estava esperando alguns metros de
distancia e preferi seguir as instruções, então continuei andando.
Voltamos para casa, estava cansada e me sentindo um pouco
doente, esta muito frio aqui, fui dormir cedo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário